09 November 2008
Diário de Bordo V - FIBDA 2008
E aqui as sugestões de compra para este ano:
Material estrangeiro já toda a gente conhece. Apoiemos a produção nacional.
COMPREM!!!!
Ia ter um conto publicado no Venham +5 a ser lançado neste FIBDA. Acontece que não há Venham +5 este FIBDA... Fica a dúvida se sairá no próximo número (por altura do festival de Beja) ou nalgum BDjornal ou antologia. Os desenhos (muito bons por sinal) são do Véte!
No BDjornal #23, estão pranchas dos Murmúrios das Profundezas. Em pré-publicação... Quando o livro já está esgotado.
Novas críticas estão constantemente a ser adiadas. Já tenho um bom número de reviews meias feitas mas falta tempo. Entre elas: Fall of Cthulhu, World War Hulk, Captain America, Thor e outras que não me lembro.
Mais novidades: estou a entrevistar essa figura mítica que é o Pat Mills e prometo alguma polémica no resultado final... Se tiverem perguntas que valham a pena, digam-me que eu passo-as ao Pat.
A cidade da Amadora foi mais uma vez palco da maior festa da 9ª arte no nosso país. Nesta 19ª edição subordinada ao tema “Tecnologia e Ficção Científica”, todas as expectativas foram superadas e pouquíssimas criticas foram ouvidas. Na recta final deste ano, aqui fica o Diário Bordo do primeiro fim-de-semana.
Tendo visitado os últimos 5 anos do FIBDA, posso afirmar sem sombra de dúvida que o festival melhora a olhos vistos de ano para ano. Tudo este ano foi quase perfeito.
Imitando um ambiente futurista, toda a concepção do espaço do festival foi pensada como um grande astro-porto com direito a nave espacial alojada.
No piso térreo apresentavam-se o grosso das exposições num ambiente um pouco labiríntico mas muito bem decorado cheio de estranhas criaturas alienígenas e decoração a condizer com o tema de cada exposição.
A exposição do Dave McKean era em tudo semelhante à de Beja. Apresentava a mesma prancha do Asilo Arkham, amostras de Mirromask, Cages e a capa para o 1º comic da série Hellblazer. Ainda assim o grande destaque foi para a obra Mr. Punch com muitas pranchas, a maioria delas não expostas em Beja e com decoração a condizer com a obra.
A exposição de Oesterheld mais uma vez teve problemas. À semelhança do festival Viñetas desde o Atlántico, não foi possível expor originais do autor. Se se pensava que o problema com o festival de Corunha em Agosto tinha sido isolado, agora confirma-se a ideia que o autor assassinado ainda é um assunto que não agrada à Argentina apesar da mudança de regime.
Destaque ainda para as exposições do fanzine Venham +5, os originais do concurso deste ano que revelam muitos excelentes novos autores, Luís Henriques que mostra o quão versátil é e Rui Lacas que infelizmente tinha em exposição uma prancha e uma das paredes decorada com uma cena do livro que em muito estraga a história a quem não a leu.
O piso -1 foi projectado à semelhança de uma grande e comprida nave espacial cheia de recantos escondidos com surpresas. Quando se pensava que se tinha visto tudo, havia sempre mais um canto com uma novidade. Se por um lado imita o ambiente de uma nave, por outro alguns visitantes podem perder as exposições
Com a zona comercial logo à cabeça, a “nave” estendia-se para a zona de autógrafos ladeada pelas 3 exposições, e continuando em varias divisões até ao fim do espaço onde se encontrava a exposição Star Wars.
O destaque deste piso vai para a surpresa que foi a exposição da delegação chinesa, Menino Triste do João Mascarenhas e Tara McPherson que só pecava por não ter mais originais já que a maioria da exposição era composta por prints de edição limitada que estão disponíveis no site oficial da ilustradora.
Apesar da excelente qualidade das exposições, a grande desilusão foi na minha opinião a exposição Star Wars. Basicamente uma exposição de coleccionáveis ligados à obra (miniaturas, action figures, estatuetas, etc.) e alguns posters da trilogia original e imagens do mais recente filme (Clone Wars), esta exposição peca precisamente pela falta de variedade. Com um universo tão rico e variado como este, não existe falta de material para exposição. Existe uma imensa variedade de BDs relacionados com este universo que fariam mais sentido estarem expostos. E ainda para mais quando um dos autores convidados para o 1º fim-de-semana, Pat Mills, já participou com alguns comics para este imenso mosaico de histórias.
O fim-de-semana foi bem concorrido com uma diferença abismal no Domingo. No Sábado andava-se muito à vontade por todo o lado mas no Domingo, especialmente na zona de autógrafos, notou-se uma maior afluência.
Os autógrafos, contrariando o caso Manara do ano passado, correram muito bem. O espaço estava genialmente projectado apesar de algumas queixas por parte dos autores que tinham pouco espaço e luz e das pessoas na fila que tinham que se abaixar como se estivessem num guiché de alguma repartição pública.
Dave McKean esteve presente no Sábado ao fim da tarde passeando anonimamente por algumas exposições. No Domingo, repetindo muito do que já tinha dito no Festival de BD de Beja, fez uma conferência e sessão de perguntas a um vasto público. Alguns metros adiante, estava a formar-se uma fila para os autógrafos ainda antes do autor chegar ao recinto. Apesar de ter sido a maior fila deste fim-de-semana, o autor conseguiu despachar desenhos e assinaturas a um bom ritmo e toda a gente levou para casa mais alguns livros assinados. Mesmo havendo um limite de um desenho e três livros por pessoa, o autor fez questão de presentear os detentores do guião do Mirrormask com um desenho extra apesar da pressa que tinha para apanhar o avião que partia em poucas horas.
Pat Mills sempre impecável teve pouca afluência. Por ser escritor, os autógrafos tendem a ser rápidos e o facto de ter pouco material à venda contribuiu para poucas assinaturas mas isso não o impedia de ser extremamente simpático, falando pelos cotovelos com Kevin O’Neill ou outras pessoas que o abordassem.
O mais engraçado nesta dupla inseparável foi ficarem deslumbrados com certos livros que as pessoas lhes pediam para assinarem. Esgotados há muitos anos, nem os próprios autores tinham um exemplar e assim trocaram muitos endereços de lojas com esse material ainda disponível.
Kevin O’Neill, tendo esquecido do material de desenho no hotel, teve que improvisar com simples canetas de esfera, fazendo desenhos rápidos e que desiludiram um pouco quem estava à espera do detalhe que o autor apresenta na Liga de Cavalheiros Extraordinários. Foi um dos autores que viu a procura aumentar bastante de Sábado para Domingo sempre disponível para o elevadíssimo numero de exemplares de livros da Liga que toda a gente parecia possuir.
Apesar de estar impedido de dar detalhes das novas aventuras, Kevin deixou “escapar” que a série a próxima aventura editada pela Top Shelf se passará no século XX e apresentará novas personagens. Será que vamos ter uma nova Liga completamente refeita?
Tara McPherson sempre muito cordial começou com poucas pessoas no Sábado e acabou no Domingo com filas contínuas. Com bastantes sorrisos e desenhos simples, esta autora mais conhecida pelos seus trabalhos de ilustração para bandas foi uma das estrelas do fim-de-semana. Foi outro dos artistas que viu a procura aumentar substancialmente de Sábado para Domingo.
Liberatore e Esteban Maroto tiveram uma procura regular durante todo o fim-de-semana. Ambos grandes desenhadores, as filas para ambos eram muito demoradas mas o incrível detalhe e cuidado que dedicavam a cada desenho compensavam a espera e as pernas doridas. Esta grande procura ainda fez esgotar no Domingo todos os desenhos do portfólio que o Maroto tinha venda a preços muito simpáticos.
Os autores portugueses estiveram sempre bem representados com os habituais Ricardo Cabral, João Mascarenhas, equipa da Kingpin of Comics ou o omnipresente José Carlos Fernandes.
Só foi pena a malta da Marvel não ter aparecido para uma apresentação ou sessão de autógrafos conjunta.
Com uma edição tão cuidada, fica a questão de como conseguirá o festival crescer ainda mais na próxima edição quando já atingiu um tão elevado nível na qualidade dos autores, exposições e espaço que oferece.
Venha o que vier para a próxima edição subordinada ao tema “O Grande Vigésimo”, estaremos aqui para a acompanhar o maior festival do nosso país.
19 September 2008
Black Summer
Argumento: Warren Ellis
Desenho: Juan Jose Ryp
Editora: Avatar Press
Numa altura em que a política voltou a ser tema nos comics de super heróis onde estes apresentam os seus argumentos ao sabor de pontapés e socos, Warren Ellis criou uma mini série política onde o tema de super heróis é mais uma vez analisado a uma nova luz.
A premissa desta série e muito simples e ao mesmo tempo controversa: se a tarefa de um super-herói é deter o crime sempre que o encontrar, não poderá esse super-herói deter um governo corrupto?
John Horus é o elemento mais poderoso dos Seven Guns, um grupo de super humanos que adquiriram “melhoramentos” de forma artificial e que se dedicaram a livrar a sua cidade de toda a corrupção, drogas e gangs.
Justificando-se com o facto de o governo dos EUA ter falsificado as eleições e ter entregue a segurança da nação a empresas privadas de segurança que contratam mercenários enquanto os soldados americanos morrem numa guerra baseada em mentiras, John Horus assassina o presidente e vice-presidente na véspera das comemorações do Dia da Independência exigindo eleições livres e um novo começo para o país.
Acontece que quando alguém ameaça o governo dos EUA, a resposta não se deixa esperar. Não querendo correr o risco dos outros Guns estarem envolvidos apesar das garantias dadas por John Horus, o primeiro alvo a abater é Tom Noir. Este é o mais inteligente dos Seven Guns que abandonou a prática quando uma bomba lhe custou uma perna e matou a sua colega e namorada Laura Torch mantendo os seus melhoramentos/poderes desligados há mais de um ano não sabendo se ainda funcionam.
Com o exército a invadir a cidade mas não se arriscando a atacar frontalmente os Guns, estes resgatam Tom Noir e procuram abrigo abrindo caminho de forma espectacular. Acontece que existem outros jogadores que querem os Guns destruídos. O primeiro alvo (falhado) foi Tom Noir. Com esta reunião dos restantes 5 Guns, uma força de vários agentes com melhoramentos semelhantes aos Guns são destacados para abatê-los dando azo a espectaculares, destrutivos e sangrentos combates ao longo dos 7 números desta mini série.
Black Summer é uma mistura de temas. Numa primeira vista, a ideia parece (mais uma vez) ser os super heróis a trocar argumentos e a tentarem mostrar a melhor opção política ao soco e pontapé. De facto a série está cheia de combates grandiosos mas a verdadeira mensagem está em certas críticas que o Warren Ellis faz aos EUA. Sendo um escritor inglês, Ellis consegue o distanciamento necessário para fazer uma análise política e uma forte critica aos EUA na sua intervenção no Iraque.
Esta série também consegue ser uma profunda reflexão dos super heróis: qual é a linha moral que divide os actos de um super herói dos de um criminoso?; com acesso a poderes incríveis, os heróis não conseguiriam semelhantes resultados sem recorrer à violência?; à semelhança de Watchmen, quem é que poderá controlar estes super seres e saber se não terão enlouquecido?; como é que um herói define quais são os limites aceitáveis para quebrar a lei por aquilo que considera ser certo?.
Uma nova perspectiva dada aos super heróis, resultado de uma aposta que o Warren Ellis fez com o editor da Avatar como poderão ler no texto introdutório da série.
O desenho de Juan José Ryp é extremamente detalhado. Tem um nível de pormenores que faz lembrar o de Geof Darrow mas a um ponto de quase saturação da página sem deixar de a sobrecarregar demasiado. A minúcia é tal que quase se poderia reconstruir um vidro partido a partir de todos os pedacinhos que foram desenhados. O mal dele é que não consegue transmitir movimento em muitas vinhetas. Ao desenhar um simples pontapé, o desenhador parece ter as personagens em pose e estar mais preocupado com desenhar os efeitos desse mesmo pontapé do que mostrar movimento e impacto. Ainda assim o extremo detalhe dos desenhos valem uma segunda leitura para apreciar alguns pormenores (exemplo, numa splash page de completo massacre, a um canto, muito pequenino, temos o SpongeBob).
10 September 2008
Breaking the Fourth Wall
Editora: Vertigo
The Filth é uma expressão do calão britânico que designa a polícia. Filth também pode designar algo pornográfico, sujo. The Filth é também outro nome dado à agência The Hand, uma organização secreta que se dedica a manter o “Status: Q” (status quo) da Humanidade livrando-a de tudo o que é aberração, perverso, não natural, e que representem uma ameaça com que as pessoas ditas normais não podem ou não querem lidar.
Greg Feely é um solteiro viciado em pornografia e obcecado com o seu gato Tony. Os seus vizinhos acham-no estranho e, além disso, é suspeito de ser pedófilo. Mas Greg não é mais do que um para-persona, uma identidade falsa dada a Ned Slade quando este se reformou da Hand e lhe limparam a memória. A sua reforma foi interrompida porque a ajuda dele é necessária para combater novas ameaças e é designado um substituto para tomar conta do gato e seguir com a vida normal de Greg para não levantar suspeitas.
Mas acontece que Greg não se lembra nada da sua anterior vida como Agente Slade. A explicação tantas vezes repetida pelos agentes da Hand é que na sua última missão, Slade sofreu um trauma que o fez esquecer-se da sua existência anterior como agente e agarrar-se demasiado à para-personalidade de Greg Feely.
Slade é enviado para diversas e estranhíssimas missões: acompanhado por um chimpanzé comunista que não gosta de humanos e que se gaba de ter matado JFK, tentam impedir as maquinações de Spartacus Hughes, um ex-companheiro de Slade agora classificado como anti-person; impedir uma arma biológica criada por um realizador de filmes pornográficos a partir do sémen negro de Anders Klimakks, outro anti-person que consegue até engravidar uma mulher de 75 anos!; nano tecnologia criada para ajudar a Humanidade que vivia num mini planeta idílico até esse equilíbrio ser brutalmente destruído por Spartacus com consequências que se repercutem no resto do livro.
E sempre rodeado de suspeitas sobre o verdadeiro papel da Hand e dos seus agentes incluindo ele mesmo, Slade a dada altura rebela-se contra a agência e descobre algumas verdades sobre a mesma, sobre a realidade como a conhecemos, sobre a(s) sua(s) própria(s) identidades que ele sempre pôs em causa, sobre o poder que a ficção tem de criar novos mundos.
The Filth é uma leitura estranha e difícil onde as aparências enganam sempre. É um murro mental que promete muitas dúvidas e onde se toca em imensos temas como realidades alternativas, crises de identidade, teorias da conspiração e ainda certas paródias e reflexões sobre os super heróis.
Destas paródias destacam-se os fatos utilizados pelos agentes da Hand que são muito garridos e ridículos de forma a mexer com o inconsciente de quem os vê e fazê-los esquecer do que viram (algo à semelhança da luzinha utilizada pelos Men in Black). O conceito da BD de super heróis é também palco de uma das cenas mais estranhas e geniais deste livro onde, à semelhança de Watchmen do Alan Moore onde existe uma BD (a dos piratas) dentro da própria BD que é o Watchmen, em The Filth existe um meio de alguns agentes “mergulharem” no mundo de uma BD para resgatar instrumentos que possam usar na realidade sendo esta realidade, uma realidade criada por uma personagem. Confuso? Sim, muito! Imaginem que era possível mergulharem dentro dos acontecimentos de um comic que têm lá por casa e saírem quando quiserem trazendo coisas de lá. Este método é utilizado pelos agentes na sede da Hand estando esta situada numa realidade alternativa/paralela aparentemente criada por um ser misterioso que mais tarde é revelado para grande surpresa do leitor.
A esta técnica de escrita chama-se fourth wall e pode ser encontrada nas reflexões acerca das Crises na DC e também noutras obras onde a personagem sabe que é uma personagem numa estória e dirige-se ao seu criador ou ao leitor. Aqui é usada numa forma ainda mais complexa onde existem várias "quebras" da fourth wall mas sem se dirigir ao leitor.
É um livro que convém reler várias vezes para captar os sentidos da estória e onde se descobrem sempre coisas novas a cada nova leitura.
Este livro é um mergulho num verdadeiro festival esquizofrénico onde abundam a pornografia, drogas, muitos palavrões e violência gráfica que não estão ali por acaso. Por mais confuso que tudo seja, há sempre uma finalidade.
Quase que se podia dizer que este livro é Grant Morrison usando drogas duras e sem qualquer tipo de censura por parte da editora. Ainda assim o livro peca por ser confuso numa primeira leitura mas, como fica a fazer comichão mental, as releituras são bem vindas e com um pouco de ajuda, descobrem-se sempre mais pormenores e outros sentidos escondidos. Penso que um maior número de páginas por comic ajudava o livro a ter espaço para se desenvolver melhor e deixar o leitor respirar.
As capas são de Carlos Segura e pode-se dizer que são no mínimo extraordinárias. Todo o livro é apresentado como sendo um medicamento (até contém nas primeiras páginas o modo de utilização como os verdadeiros medicamentos onde se descrevem efeitos secundários, recomendações, posologia, composição, etc.) com um grafismo que faz lembrar simples caixas de medicamentos.
Os desenhos de Chris Weston cumprem o objectivo. São simples, eficazes e realistas mesmo num ambiente de completa maluqueira onde se vê de tudo.
21 August 2008
Diário de Bordo IV - Viñetas desde o Atlántico, um festival de lições
E agora com 2 semaninhas no Algarve dedicadas à leitura já que (finalmente!) vou estar longe de computadores que só me distraem das leituras lol
Fica aqui o mais recente Diário de Bordo, desta vez referente ao festival Viñetas desde o Atlántico em Corunha. Amadora, aprendam com Corunha! Corunha, aprendam com a Amadora!
PS-Infelizmente não há fotos porque estupidamente só me lembrei da máquina quando chegamos a Corunha...
Num país que apoia bastante a cultura e tem uma pujança editorial que só vendo para crer, o Viñetas desde o Atlántico afirma-se como um dos maiores festivais de Espanha. O Diário de Bordo seguiu para o país de nuestros hermanos para visitar durante o dia 15 Agosto o festival da Coruña que celebra este ano a sua 11ª edição.
DIVULGAÇÃO
A divulgação deste festival é excepcional. Logo à entrada da cidade já é possível ver cartazes com o símbolo do festival (que foi criado pelo Miguelanxo Prado na primeira edição do festival) em todos os postes de iluminação além de reproduções em tamanho real de inúmeras personagens de BD em pontos-chave da cidade. É uma boa maneira de reutilizar a publicidade sem haver necessidade de criar novos cartazes todos os anos só porque o desenho do cartaz e o número da edição do festival mudou.
Pode-se dizer que este festival vive da cidade. Lojas que aproveitam o movimento do festival para estarem abertas mais tempo; promoções; e uma população que sai à rua para visitar exposições e bancas que não tem preconceito em relação à BD.
EXPOSIÇÕES
Semelhante a Beja, o festival divide-se em vários locais no centro da cidade. O local dos autógrafos (Palexco), as bancas e o edifício da Fundación Caixa Galicia encontram-se todos na mesma zona das 3 avenidas junto ao porto ao alcance de alguns metros a pé.
As exposições de David Aja e Daniel Acuña situavam-se no equivalente à Câmara Municipal, na praça coração da cidade, obrigando desta forma a conhecer mais da cidade e tudo a uma distância muito acessível.
Estando o Kiosk Alfonso, habitual e principal espaço de exposições do festival ocupado com outra exposição referente à comemoração do 800º aniversário da cidade, algumas exposições deste ano foram transferidas para o edifício Fundación Caixa Galicia propriedade do banco homónimo.
Além das excelentes exposições de Mark Buckingham, Solano López (que devido a problemas, teve em exposição cópias digitais de várias pranchas que muito perdiam para os originais) e da dupla Étienne Le Roux e Luc Brunschwig, quem visitasse o edifício tinha ainda direito a uma exposição do Museu Prado: El Retrato en el Prado. De Goya a Sorolla. Tudo muito bem apresentável e com nível (pena não deixarem tirar fotografias).
No Palexco, muito espaço livre e simplicidade ao máximo reinavam no que era também o espaço para autógrafos. As exposições presentes eram de Howard Cruse, Miguel Gallardo, Paco Roca, Oliver Ka e José-Louis Bocquet e Catel Muller.
ESPAÇO COMERCIAL
As bancas situam-se no exterior, mesmo em frente da Fundación Caixa Galicia. O espaço comercial está completamente desligado do espaço dos autógrafos e isto por um lado permite potenciar as vendas com os leitores ocasionais de passagem e também evitar que num espaço limitado se formem pequenas multidões mas por outro perde nos autógrafos por não se ter à mão uma banca com as obras dos autores. O exemplo da Amadora podia ser aqui seguido mas percebe-se que o mais importante torna-se divulgar as publicações e vender àqueles que não se preocupam com autógrafos.
O espaço comercial com mais de 40 bancas (!!!) dá para ter uma ideia da pujança que o mercado bedéfilo tem em Espanha. Este monstro editorial é constituído por um elevado número de editoras de todos os tipos e editam praticamente tudo o que se vê lá fora sem nunca esquecer os autores nacionais muito bem representados e editados em grandes quantidades. Não deixei de reparar que até uma dessas editoras, a Astiberri tem no catálogo para este ano o anúncio do lançamento para este ano da Agência de Viagens Lemming do omnipresente José Carlos Fernandes.
É possível encontrar virtualmente tudo o que saiu no estrangeiro traduzido. Desde as grandes editoras americanas passando pelos gigantes da manga, underground, franco-belga e tudo o que é possível imaginar.
Num país que traduz tudo é extremamente difícil encontrar material na língua original e é engraçado de ver que, tal como nos EUA, também em Espanha, em imensos títulos das grandes editoras, primeiro lançam-se os comics e depois recolhem-se os arcos de estórias em trades ou HC em edições que são tão ou até mesmo melhores que as estrangeiras sendo raros os casos em que se tornam mais caros que os originais.
AUTÓGRAFOS
Além da diferença no espaço comercial desligado dos autógrafos, no Palexco, local dos mesmos, a disposição das mesas é bastante diferentes do habitual nos festivais. Os autores estão espalhados pelo local e caso tenham arte exposta no edifício ficam junto da sua respectiva exposição.
A organização aqui esteve muito má. Os autores e visitantes são deixados desamparados pois não era possível encontrar ninguém da organização devidamente identificado que pudesse ajudar.
Com a estrela do cartaz deste ano, Mark Buckingham, sem mesa, deduziu-se que o autor tinha faltado a esta edição. Resignando-me a perguntar a um “segurança del patrimonio” se o Buckingham iria comparecer, penso que obteria melhor resultado se lhe tivesse perguntado quando seria o próximo alinhamento de Marte com Vénus.
A sessão de autógrafos com Daniel Acuña e David Aja, dois heróis nacionais que actualmente trabalham para títulos da Marvel, tornou-se algo desesperante e decepcionante do ponto de vista da espera. Sem ninguém para controlar o tamanho das filas, grande parte dos fãs perdeu a oportunidade de obterem desenhos e firmas (assinaturas). O tempo que eles gastavam para cada fã era demasiado para as duas horas (que ainda se arrastaram por mais meia hora) e a dada altura os autores tiveram que anunciar que não iam fazer mais desenhos naquele dia. Mais outro exemplo da falta de organização que os espanhóis aparentemente demonstram muitas vezes.
Pelo menos os desenhos e a simpatia dos autores compensaram o enorme tempo de espera.
ORGANIZAÇÃO
No geral a organização está de parabéns. O festival é excelente, muito bem divulgado e organizado apesar do problema das pessoas desamparadas no Palexco e o muito habitual facto de ainda anunciarem confirmações e horários até ao último dia no blog oficial Viñetas desde o Atlántico.
A organização nisto tem algumas coisas a aprender com a Amadora por exemplo e de certa forma, a Amadora também pode seguir alguns exemplos de Corunha e Beja.
O Viñetas desde o Atlântico concentra apresentações durante uma semana, autógrafos em 2 dias com os autores todos reunidos e as exposições ficam acessíveis durante o mês quase todo. O FIBDB concentra num fim-de-semana as sessões de autógrafos e as apresentações mais relevantes com outros eventos a preencherem os restantes dias
Um festival devia concentrar todos os seus participantes dando, assim, oportunidade de se apreciar ao máximo a festa que é.
Um dia chega perfeitamente para conhecer o festival mas o ideal são 2 dias de forma a ter-se tempo para estar com todos os autores, ver todas as exposições e conhecer melhor a cidade que vale bem a pena. É um excelente festival, obrigatório no guia de “festivais a visitar um dia”.
23 July 2008
VI Troféus Centralcomics
Podem consultar o resto da programação AQUI.
A Casa da Animação situa-se perto na cidade do Porto entre a Rotunda da Boavista e os Jardins Palácio de Cristal e poderão ver no mapa AQUI.
Compareçam para um dia de celebração da 9ª Arte!
21 July 2008
Inglorious Basterds
Aparentemente disponível em exclusivo para o site ANIMAL, o estilo inconfundível de diálogos, cenas a preto e branco, sangue e muito gore tão característicos do Tarantino parecem confirmar a autenticidade do guião.
Passado durante a II Guerra Mundial, o tema resume-se basicamente e mais uma vez a vingança… Simples e pura vingança! Desta vez de Judeus às atrocidades dos Nazis.
Com duas estórias em paralelo que se vão encontrar a dada altura, seguimos as desventuras de uma sobrevivente judia e de um grupo infiltrado de soldados judeus americanos.
Tarantino neste novo filme (e se o guião for mesmo este) consegue juntar dois estilos muito utilizados no cinema: o do/da judeu/judia que tenta sobreviver no meio de um país que a persegue (temos o exemplo do Pianista) e o do pequeno grupo de soldados infiltrado nas linhas inimigas a cumprirem missões (Resgate do Soldado Ryan).
O tema da vingança desta vez é servido nestas duas estórias. Temos uma jovem judia que teve a sorte de sobreviver ao massacre da sua família e que por acaso do destino fica com um cinema para gerir preparando uma vingança muito especial aos nazis e temos o grupo de soldados judeus americanos que se infiltraram para um único propósito: espalhar o terror entre as tropas alemãs de todas as formas possíveis (que é como quem diz, cenas que só podiam ver de uma mente tarantinesca).
Apesar do ambiente fugir bastante do que é costume do Tarantino, asseguro-vos que o estilo dele neste guião está lá todo:
- o tema recorrente da obra deste realizador dá pano para mangas em qualquer época ou cenário;
-tiroteios e explosões sangrentas como já nos habituaram;
-os famosos diálogos;
-as cenas a preto e branco bem escolhidas;
-os gags e coincidências cósmicas habituais (lembram-se no Pulp Fiction da cena do Bruce Willis pugilista e do patrão dele? Há uma ou duas desse género);
-cenas gore, muito gore (menos que no Kill Bill mas violentas graficamente).
Arrisco-me a dizer que é uma estória nada habitual num filme deste género já que o costume é seguirem mais ou menos fielmente os acontecimentos históricos. Aqui a liberdade artística é levado a um belo extremo.
Esperemos que não demore tanto tempo a filmar como demorou a escrever este guião (5 anos). Mais um filme para a colecção que mal posso esperar.
PS-Ele que abuse do corrector ortográfico quando passar o guião para o computador porque aquilo está cheio de erros...
21 June 2008
Novidades para as próximas semanas
O que me espera para ler e alguns por comentar:
- World War Hulk (mini-série principal, Front Line, Avengers: The Initiative, Damage Control, Warbound e one-shot Aftersmash);
-Captain America desde a morte até agora;
-Endangered Species + Messiah Complex (em comics) e respectivas continuações;
-The Filth (é Grant Morrison, 'nuff said!);
-o mítico e lindo Absolute Sandman Vol.1;
-Green Lantern: No Fear e Revenge of the Green Lanterns ambos HC;
-The Dark Hose Book of Hauntings HC;
-The Dark Hose Book of Monsters HC;
-The Dark Hose Book of the Dead HC;
-Mirrormask: The Illustrated Script HC (uma pechincha que li apenas metade no caminho para Beja);
-Conan e Arte de Manara da saudosa colecção Clássicos da BD do Correio da Manhã;
-El Gaúcho;
-Criminal (já li do #1 ao #5 mas vou reler tudo o que saiu até ao momento. É uma série obrigatório de seguir em comics);
E na lista de releituras:
-Rising Stars (uns belos 24 comics);
-Stardust (Primeiríssima edição de 1998 da Vertigo ilustrada pelo Charles Vess!!!!);
-Gotham Central Vol.1: In the Line of Duty (esgotadissimo na editora);
-Sleeper Vol.1: Out in the Cold (idem aspas);
-V for Vendetta e Watchmen;
-The Dark Hose Book of Witchcraft HC;
-toda a série do Corto Maltese.
E na parte das escritas além desta lista de leituras que a maioria são para comentar:
-conto para o próximo Venham +5, desenhado pelo Véte (obrigado Véte :D );
-as mirabolásticas e fantabulásticas aventuras de Zé Manel (nome provisório apesar de ter a sua graça), a personagem que o Burnay tem exposto no fórum da Centralcomics;
-dois projectos que não posso falar agora mas estão prometidas novidades.
Entretanto a 4ª temporada de Weeds já começou nos states. Excelente como sempre.
E mal posso esperar pela próxima temporada de Californication.
Acrescentei vários novos links. Destaque para o excelente desenhador que o Pedro Cruz é (tem algum material editado lá fora) e o "diário" de Neil Gaiman que ando a seguir. Tem bons conselhos para quem quer escrever, responde à maioria dos mails dos fãs se cumprirem os requisitos mínimos que podem ver nas FAQ's.
08 June 2008
The best in what he does (II)
Editora: Marvel
A relação de Wolverine com o Japão é um tema muitas vezes utilizado no universo deste herói. Desta vez calhou o período da 2ª Guerra Mundial já depois dos E.U.A terem entrado no conflito.
Depois dos acontecimentos em House of M, o mutante mais amado do universo Marvel, armado com todas as memórias da(s) sua(s) vida(s) passada(s), volta novamente ao Japão para tratar de (mais) um assunto por resolver.
Acabado de chegar, é logo confrontado literalmente com um fantasma do seu passado, uma personagem mistério que o cilindra forte e feio.
Nisto, o leitor é logo transportado para um flashback onde vemos um Logan, paraquedista canadiano, prisioneiro de guerra dos japoneses e na companhia de um paranóico tenente americano. Servindo-se dos seus talentos mutantes, Wolverine e o tenente escapam da fortaleza e embrenham-se na floresta.
A dada altura encontram aquele que será o motivo de divisão entre os dois: uma mulher.
O americano paranóico, vendo assassinos em todo o lado, decide matar a civil justificando-se que se trata de mais uma espia ao serviço do império japonês. Logan, vendo nada mais que uma simples mulher, obriga-o a afastar-se selando assim uma rivalidade que irá durar.
Esta mulher que ele conhece será motivo de mudança. Ela e os acontecimentos do 2º número fazem com que a personagem cresça e amadureça num certo sítio famoso chamado Hiroshima.
A leitura torna-se estranhamente rápida e consegue-se despachar estes 3 comics em cerca de 15 minutos. O ritmo em si às vezes também falha e não nos deixamos de perguntar como seria se fosse dada mais tempo para uma revisão.
Além disso, a revelação sobre quem seria essa personagem mistério e o que lhe tinha acontecido é bastante previsível e existe também uma incoerência no argumento. Não queria estar a dar muitos detalhes mas envolve uma personagem que dizia não perceber japonês mas mais tarde dá um argumento que revela afinal ter percebido o que outros tinham dito. Confuso e mostra um grande descuido por parte do argumentista.
Esta estória tinha muito potencial para ser explorado mas na minha opinião falha em muitos pontos.
E nisto tudo, também não há justificação para o preço de capa inflacionado. A edição é muito boa com uma capa mais grossa que o habitual (como tem sido hábito do selo) mas, ao contrário das outras minis, o número de páginas é baixo e a quantidade de publicidade é maior do que estou habituado a ver num comic (e olhem que 80% do que leio é em comics) e isso estraga bastante a leitura. Estes factores conseguem deixar muito a desejar no preço a pagar pelos comics. Venha o TPB ou o HC.
29 May 2008
Diário de Bordo III - IV FIBDB
Pelo que me disse o director do festival, Paulo Monteiro (os meus agradecimentos, sem o convite dele o mais provável era não ter ido por causa da despesa que é passar um fim de semana fora tão longe), as precisões deles apontavam que iam ter cerca de 6000 visitantes, mais 1000 que o ano passado.
Dave McKean tem destas coisas hehe
Olhar para a prateleira e ver aqueles Mirrormask Illustrated Script e Asilo Arkham e saber que não estão assinados... e ele ainda me ficou com o meu marcador prateado... Mais uma estória a somar aos festivais.
Fica aqui o mais recente Diário de Bordo.
Depois de um fim-de-semana passado em Beja, este Diário de Bordo retrata a minha primeira ida ao Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja que já vai na IV edição. Nunca houve a oportunidade vir a este festival mas este ano, aliando um nome sonante e o facto de ser a minha primeira ida a um festival como autor, não podia faltar.
Depois de duas viagens que duraram ao todo cerca de 5 horas, eis que chego a Beja carregado qual Pai Natal com livros para os autógrafos. Enquanto o festival não abria, houve oportunidade de ver a bem conseguida zona comercial situada no exterior da Casa da Cultura mas abrigada do tempo que prometia ser muito chuvoso. O espaço é bem agradável com o bom tempo alentejano e a sessão de autógrafos era para se realizar lá mas teve que ser movida para a bedeteca porque a temperatura baixou muito.
Depois de aberto oficialmente o festival, ficaram todos entregues às exposições. Destaque para a exposição do Gipi, BRK com algumas pranchas inéditas, João Lemos e o seu número do Avengers: Fairy Tales e, naturalmente, Dave McKean. Esta exposição, que só pecava por ser pequena, mostrava um pouco de todos os seus trabalhos (capas e pranchas de várias BDs) e os diferentes estilos e potencial deste excelente artista. Os originais das diferentes obras expostas iam desde pranchas de Asilo Arkham, Cages e Mr. Punch passando pelas brilhantes capas da série Hellblazer e Sandman, arte do filme Mirrormask e diferentes edições dos títulos em que o autor colaborou.
O festival não se esgotava apenas na Casa da Cultura/Bedeteca de Beja. Devido à demora que houve com os autógrafos que o Dave McKean andava a distribuir, a “tournée” por Beja para abrir as restantes exposições foi, em parte, cancelada. Ainda assim tivemos a oportunidade de ver algumas ao acompanhar o resto do programa.
O jantar no Sábado foi nos claustros do Museu Regional de Beja, um mosteiro desactivado onde na sacristia estão expostos originais da Susa Monteiro.
Depois do jantar, a festa continuou no Museu Jorge Vieira - Casa das Artes com exposição de Pepedelrey e Teresa Câmara Pestana e, para animar, questionário sobre BD.
A noite, já avançada, terminou com a actuação dos Jigsaw na Galeria do Desassossego local que o Dave McKean gostou por lhe fazer lembrar os clubes de Londres dos anos 80.
Esta forma de visitar o festival, que não cabe todo na Casa da Cultura, também é uma excelente maneira de conhecer parte da cidade. Todos os locais com exposições ficam muito próximos uns dos outros podendo ser visitados a pé e tudo sem ter que se pagar um único bilhete. Uma forma de mostrar aos bedéfilos que não conhecem Beja o que a cidade tem para oferecer para, quem sabe, a visitar uma próxima vez.
Já no Domingo foi a nossa oportunidade de nos estrearmos como autores. O projecto dos Murmúrios foi apresentado, teve bom público apesar de muita gente se ter atrasado e o interesse de várias pessoas incluindo o director do festival, Paulo Monteiro que desde já agradecemos o convite.
A nossa apresentação foi seguida de:
- Plano editorial da Kingpin of Comics para 2008;
- Qual Albatroz, uma nova editora que irá lançar o próximo livro do Menino Triste e ReEvolução 01/10 com a presença dos autores;
- Apresentação do livro “De trute ise aute der” e do fanzine/e-zine “Terminal” ambos a cargo de Phermad responsável pelas Edições DrMakete.
Não estando agendado, Dave McKean ainda fez uma muito interessante e demorada retrospectiva de quase todos os seus trabalhos em BD, ilustração e cinema.
Infelizmente não tive oportunidade de ficar para o final pois iria perder a viagem de regresso.
Não querendo tecer nenhuma crítica, não deixo de me perguntar que tipo de afluência teria o festival se um nome tão sonante como o do Dave McKean não estivesse no cartaz. Infelizmente poucas caras novas vêem-se neste tipo de eventos e são estes nomes que chamam fãs dos arredores (Lisboa por exemplo). Ainda assim não deixam de ser louváveis diferentes iniciativas como o torneio de Playstation, projecção de filmes, diferentes workshops e maratonas de BD que chamam outro tipo de público. Não esquecendo os mangakas, ainda há até ao final do festival oficinas de caligrafia japonesa e origami, shiatsu, cerimónia do chá, sessão de anime de 6 horas ininterruptamente com dobragem ao vivo e ainda jantar japonês.
Para os mais novos, aqueles que esperemos que sejam a próxima geração de bedéfilos, o programa é diversificado envolvendo teatro, ilustração e leitura.
O espaço da bedeteca, que antes só tinha visto em fotografias, é muito bem conseguido. Inserido na Casa da Cultura, ocupa apenas uma sala e tem praticamente tudo o que foi editado em Portugal a partir dos anos 70 e onde se incluiu também um belo catálogo de material importado muito diversificado. Esta bedeteca é a prova que não é preciso um espaço autónomo podendo muito bem ser enquadrável num outro qualquer equipamento cultural existente mais abrangente. Um exemplo a seguir por outras localidades, especialmente a norte que nunca viu equipamentos destes nem vê eventos desta importância há alguns anos.
O próprio director do festival foi muito simpático e acessível. Sempre presente era ao mesmo tempo guia, coordenador, … um faz-tudo dentro do festival sempre disponível para qualquer coisa.
O próprio festival é algo completamente diferente do que tenho visto na Amadora. Enquanto um vive para a parte “comercial” onde o importante é o triângulo exposição -autor - espaço comercial, neste festival, não deixando de parte estes três alicerces, vive-se um ambiente de maior “intimidade e familiaridade” devido à quantidade de caras conhecidas e à menor dimensão do mesmo. É um festival que aposta num bom ambiente onde numa hora se está numa fila de autógrafos para um autor como na outra já estamos numa alegre conversa com o mesmo numa exposição ou esplanada.
23 May 2008
Dream of Californication
Desta vez venho-vos falar provavelmente da melhor série do momento dentro do seu género. Como devem ter percebido, trata-se da série Californication. E que poderá ter esta série de especial? Bem, basicamente... tudo.
Num artigo que o David Soares publicou algures, ele falava no papel de escritor e/ou argumentista que é muitas vezes esquecido e deixado para 3º ou 4º plano em detrimento da arte (caso da BD) ou dos actores, realizadores e outros "ores" que montam o espectáculo. But fear not, my writing friends!!! CALIFORNICATION IS HERE!!
Hank Moody é um escritor de relativo sucesso e uma sólida base de fãs. É muito bom e reconhecido em diversos circuitos. Com apenas 3 romances publicados ao longo de muitos anos (e mais umas curtas e essas coisas que os escritores mais conhecidos têm que fazer para pagar as contas lá de casa) vê finalmente o seu trabalho "valorizado" quando o seu livro God Hates Us All é transformado num filme chamado A Crazy Little Thing Called Love com Tom Cruise e Katie Holmes nos principais papéis (antes que corram para o IMDB Cruise-lovers, este filme NÃO existe! Foi criado apenas para a série). Mais não é preciso dizer para perceberem que o filme é considerado uma valente porcaria mas o retorno financeiro para o nosso querido escritor é bem evidente. Hank em algumas tiradas bem inspiradas, faz a folha ao realizador do "filme" e mais não digo para apreciarem devidamente estas cenas míticas.
Para fazer este filme, Hank e a família (a deusa Karen e Becca, a filha rock star genialmente precoce) mudam-se de Nova Iorque para Los Angeles de forma a Hank acompanhar a rodagem (chamemos-lhe massacre) do filme inspirado no seu livro. O tempo passa e L.A. definitivamente não é o sítio para esta tripla. O espectador apanha a vida de Hank numa péssima altura e só aos poucos é que descobre o que efectivamente aconteceu para a Karen ficar noiva de um tipo sem interesse e mudar-se com a filha para a casa dele, Hank, num estado de total bloqueio criativo há já algum tempo devido à adaptação do seu livro, navegar por um mar de libertinagem, álcool e pussies como se não houvesse amanhã e ainda o porquê do estado em que se encontra o Porsche da personagem principal (sim, até isso tem o seu interesse. Aquele carro tem carácter e um historial por trás que só visto).
Logo nos primeiros episódios assistimos a um dos engatanços de Hank que mais estranhos resultados vai produzir e que ficarão definitivamente na História da televisão e cinema. A história pouco avança mas esse mítico David Duchovny prende-nos a atenção com uma das mais interessantes personagens vista na televisão.
David é um pequeno deus nesta série, completamente à vontade numa personagem que faz tudo para que a sua vida não se desfaça ainda mais mas ao menos tempo não quer saber e leva tudo na boa. É a personificação do que melhor e pior existe num mundo que muitos almejam atingir, Hollywood.
Para aqueles que conseguiram acompanhar a pedalada dos primeiros episódios, a sua dedicação à série é imediatamente compensada. Tudo o que tem acontecido tem ou vai ter um peso, algumas vezes bem grande, no futuro. Aos poucos vamos perceber como é a vida deste escritor e quem sabe, de outros, que vivem sempre com o fantasma de um bloqueio criativo à espreita.
Finalmente a justa homenagem a uma vida que supostamente não tem interesse em ser mostrada como muitos pensam. Inúmeros filmes sobre músicos, pintores e outros artistas têm sido feitos mas sobre escritores e o que é realmente viver da escrita, arrisco-me a dizer que esta série é pioneira.
Não vos queria estar a contar mais coisas para não perderem pitada desta série. Cada episódio tem apenas 25 minutos mas estes 25 minutos valem mais do que muitas horas de muito cinema e televisão que tenham visto. Às vezes a série é criticada por "não ter história" mas acreditem, ela está lá... E chama-se Hank Moody!
Atenção que isto é material para maiores de 18. A Showtime, canal "financiador" da série, não tem quaisquer problemas em meter cenas muuuiiito explicitas e que já valerem muitas censuras e protestos de puritanos. E com alguma razão se não forem vistas dentro do contexto. Há muita coisa que nem passariam pela cabeça de muita gente.
27 April 2008
Black Dossier
Desenho: Kevin O'Neill
Editora: America's Best Comics
ATENÇÃO! PODE CONTER EVENTUAIS SPOILERS!
Este novo volume da brilhante Liga de Cavalheiros Extraordinários passa-se nos anos 50, numa Inglaterra a recuperar dos anos do regime do Big Brother onde os avanços tecnológicos misturaram o ambiente vitoriano com o steam-punk.
Estas provas reunidas no dossier seguem uma cronologia exacta que vão desde tempos imemoráveis com os Great Old Ones, criacção do Lovecraft, passando por todas as fases da História da Grã-Bretanha até quase ao “presente” onde se encontra a dupla e o leitor. Tudo relacionado com as diversas Ligas existentes ao longo dos séculos entre as quais uma que a Mina e o Alan formaram depois das invasões marcianas e que nunca tínhamos visto antes e que incluiu, entre outros, Orlando, personagem já apresentada nos outros volumes e que neste tem direito a tiras que contam a sua vida desde há 3.000 anos atrás.
O mais brilhante deste livro é o leitor acompanhar a par e passo tudo o que a dupla descobre acerca das antigas encarnações da Liga. Ao longo da narrativa muito bem conseguida, vamos alternando entre períodos de tensão com a perseguição dos agentes especiais do MI5 à dupla e outros mais calmos onde eles aproveitam para ler mais um pouco do dossier. Conforme vão lendo o dossier, o leitor também acompanha a leitura do mesmo. A leitura da banda desenhada é interrompida para se poder mergulhar exactamente no que as personagens estão a ler. O livro interage com o leitor de tal maneira que só nos faltava acompanhar as investigações de Alan e Mina lado a lado com eles.
Alan e Mina roubam o dossier entretanto já esquecido e ignorado pelo MI5, mas, assim que assaltam a sua antiga sede, são perseguidos por um trio de personagens bem sinistras (que dizer então da surpresa que é o Bond) que não fazem ideia de quem eles são. A ideia da Mina era desaparecerem com o dossier para o Blazing New World. Desta forma, além de apagarem todas as provas da existência da(s) Liga(s), desapareciam também todos os factos relacionados com este sítio especial.
Esta última parte no livro é um pouco decepcionante para uma perseguição e aventura que prometiam um bom final. Foi mais uma desculpa de apresentar uma ideia recorrente na obra do Moore (Promethea e A Voz do Fogo entre outras) mas que não deixa de ter a sua piada e nos introduz novas ideias que possivelmente serão utilizadas no futuro da série.
Apesar disso o Moore consegue algo inovador neste final usando os efeitos 3D. Se o leitor alternar as cores, vê desenhos sobrepostos a vermelho ou a verde. Sem os óculos, tudo não passa de uma confusão de linhas a cores mas com os óculos, vemos imagens diferentes conforme a cor escolhida. Atentem nos portais para outras dimensões e especialmente na concepção do Nyarlathothep que está tão genial que não há palavras para descrever.
Penso que os fãs que estão à espera de uma aventura como as 2 anteriores, podem desiludir-se bastante com este novo capítulo. Este álbum é mais um compêndio de informações sobre a Liga e, mais lá para o final, do Ideaspace (uma dimensão que o Moore acredita piamente existir onde se encontram todas as ideias, conceitos abstractos, personagens e estórias que alguma vez existiram, existem e existirão) do que uma aventura como tem sido os anteriores álbuns. Prova disso é a nova série da Liga que será, nas palavras do próprio Moore, o terceiro volume da Liga de Cavalheiros Extraordinários.
Só para terem uma ideia do génio do Alan Moore, para esta série, ele teve a ideia de juntar num único universo brilhantemente coeso todos os grandes e pequenos clássicos da literatura.
Além dos habituais Sherlock Holmes (Professor Moriarty), Dr. Jekyll e Mr. Hide, Dracula (Mina Murray), As Minas do Rei Salomão (Allan Quatermain), 20 mil Léguas Submarinas (Capitão Nemo) e outros que não me lembro, nesta obra temos presente as seguintes referências que consegui identificar e me recordo:
-Lovecraft e o seu Cthulhu Mythos;
-George Orwell e o seu 1984;
-Robert E. Howard e o continente criado para o universo do Conan, Hyperborea;
-Fanny Hill (com uma nova aventura supostamente criada por ela);
-Shakespeare (com uma peça também supostamente criada por ele);
-Moby Dick;
-Ian Fleming e o seu Bond e os vários M‘s que são sempre uma surpresa nesta série;
-Gulliver e uma “suposta” formação de uma Liga criada por ele;
-Beowulf;
-imensas obras "menores" onde surgem diversas personagens que compõem versões frustradas de formar uma Liga após o abandono da dupla Lina e Alan e outros equivalentes da Liga noutros países como os franceses "Les Hommes Mystérieux" e os alemães "Der Zweilicht-helden".
Já está prometido um novo capítulo nesta excelente saga. Desta vez será editada pela Top Shelf e, aparentemente, são três comics de nome The League of Extraordinary Gentlemen - Century.
Para saberem virtualmente tudo sobre a Liga, visitem este site: http://www.comp.dit.ie/dgordon/League/loeg0008.html
26 April 2008
Asa Negra - Nova loja de BD
Em Abril, uma nova loja de BD surge no país. Hugo Teixeira (autor de Bang Bang e Monótonos Monólogos de um Vagabundo) e Ana Vidazinha criaram a loja que situar-se-á em Almada.
Asa Negra Comics
CC Faraó, loja 4, Almada
www.asanegracomics.com
14 April 2008
Loop station (II): Death Proof
Decidi mudar a ideia por detrás da Loop station. Em vez de mostrar o disco que está constantemente a passar no estaminé, vou mostrar o que anda a rodar por cá apresentando também o filme. Isto porque a grande maioria dos discos que ouço são bandas sonoras.
Perdida a oportunidade de comentar o filme Sweeney Todd e a banda sonora de Juno (se encontrar barato e me entusiasmar, talvez escreva qualquer coisa), passo agora para Death
Proof.
Apanhei o disco em promoção mais uma vez num daqueles super-mercados culturais que todos conhecemos para o bem e para o mal (especialmente das carteiras).
Passado tanto tempo depois de ter visto o filme no cinema, ao ouvir o cd, cheguei a uma vergonhosa conclusão: não me lembrava de nenhuma cena à excepção da lap dance e mesmo essa foi muito esforço de memória. Não reconhecendo as músicas, tive que rever o filme.
Bem, ainda mais envergonhado fiquei. Como foi possível deixar passar tantas cenas memoráveis?!?
Nesta segunda visualização, dei mais atenção à banda sonora e, como sempre, é soberba e incrível.
Os diálogos são tantos e tão bons que a banda sonora peca por não ter mais mas os principais estão lá. Dou destaque obviamente ao diálogo onde nos é apresentado Stuntman Mike, a definitiva ressurreição de Kurt Russel para os grandes papéis.
Em relação às músicas, que há mais para dizer? Mais uma prova que Tarantino é tão bom realizador e escritor como conhecedor de música. Grande parte da alma dos filmes dele vive das músicas, onde cenas memoráveis só são isso mesmo, memoráveis, por culpa das músicas. Quem viu o filme mas ainda não teve oportunidade de rever ou de ouvir a banda sonora, antes de mais que procure a The Coasters - Down in Mexico... Anos 60 e 70 em alta!
Em relação ao filme, os fãs de Tarantino têm uma relação de amor-ódio com esta metragem.
Há aqueles que adoram o filme. Os mesmos diálogos espectaculares, uma perseguição de automóveis como já não se via há muitos anos (note-se que este filme não teve uma única pitada de CGI, é tudo carroçaria e chapa a desfazer-se a 200km/h), um "vilão" que mete medo ainda antes de sabermos quem ele é, raparigas giras, acção... Enfim, o cocktail habitual que presenteia os mais entusiastas com piscadelas de olho ao Kill Bill e à segunda metade deste Grindhouse: Planet Terror.
E existem aqueles que não gostam e até teriam alguma razão mas simplesmente não entenderam a mística deste filme. Sim, é mau, tem pouca estória, final abrupto mas é essa a piada do filme. É daqueles tão mauzinhos que é genialmente bom. Um verdadeiro Grindhouse feito para divertir e entreter.
É essa a mística por detrás dos filmes Grindhouse, um filme para entreter, barato e mau.
Um clássico instantâneo que tanto poderia ser apreciado na época dourada dos Grindhouse como nos dias de hoje!
PS - Em Novembro vai sair Kill Bill: The Whole Bloody Affair. Ainda não se sabe pormenores sobre os extras mas já estão prometidos 4 (!) discos e fala-se que o Tarantino juntou os dois filmes num só, coloriu as cenas a preto e branco, acrescentou algumas cenas apagadas (censuradas para poder obter a classificação "Restricted" que penso que seja um "16+" já que esta nova versão será "Rated 17+", o nosso "18+") e mexeu na ordem das cenas para aquilo que ele estava a pensar fazer originalmente.