04 January 2008

Diário de Bordo I - FIBDA 2007, A Maioridade?

Há uns meses atrás quando vínhamos do Festival Internacional de BD da Amadora, prometi ao Hugo Jesus uma crítica ao festival para a Centralcomics.


Festival Internacional de BD da Amadora
Fim-de-semana: 27 e 28 Novembro

Na inauguração desta nova crónica, Diário de Bordo, o festival visado é o FIBDA no fim-de-semana de 27 e 28 de Novembro.

Já lá vão 4 anos de visitas ao FIBDA (se não descontar 2006 onde não tive tempo de ver o piso inferior de exposições) e, como sempre, assiste-se ao mesmo espírito de partilha de poucos por um gosto que a poucos parece atrair. Infelizmente continua-se a ver as mesmas caras neste evento com poucas caras novas a surgir mas, pelo que vi, este ano o festival teve uma maior afluência do público.

EXPOSIÇÕES
Da minha experiência das últimas 4 edições, a apresentação das exposições têm vindo a aumentar de qualidade muito significativamente.
No piso 0 ou piso superior encontravam-se logo à entrada os originais do concurso deste ano, a exposição de “Salazar, Agora na hora da sua morte”, “Os nossos lápis têm 100 anos”, exposição da Viacor, fabricante de material para desenho, patrocinador do festival, e “As 10 BDs do Século XX”, exposição de 2004 com pequenas salas, cada uma dedicada a uma BD e repleta de diversos objectos e edições dessa BD.
A exposição de “Salazar, Agora na hora da sua morte” estava muito bem conseguida ao nível de ambiente. A exposição consistia num corredor a lembrar o ambiente das páginas do livro e um qualquer corredor de espera dos tempos cinzentos de Salazar.
Além da oposição dos rascunhos de Miguel Rocha com o trabalho final do livro, na exposição existia um armário com fotos, recortes e pautas da altura, duas filas de cadeiras de aspecto antigo de costas voltadas e ainda um banco muito parecido com o que é apresentado no livro que marcou a queda do ditador.

Os visitantes podiam seguir para o piso inferior no final da visita a este piso. Este ano conseguiu-se de forma eficaz resolver o problema de fazer com que as pessoas visitassem o piso inferior. Enquanto que em 2006 o piso -1 poderia passar despercebida à grande maioria dos visitantes do festival (a entrada encontrava-se fora do recinto da exposição, no acesso ao parque de estacionamento e não existia nada a assinalar as exposições), este ano o problema foi resolvido com a inserção da entrada no corpo da exposição.

No piso -1, logo à chegada encontrava-se as muito bem conjugadas zona de convívio, zona de autógrafos e área comercial (que mais abaixo são analisadas) e o grosso das exposições.
De um modo geral a exposições estavam muito bem conseguidas.
O meu destaque este ano vai a exposição de Alain Corbel onde as pranchas estavam expostas numa sala a imitar uma praia, com o chão de areia e rochas com os livros do autor e outros objectos.
Ainda assim a exposição “O caso italiano” também, apesar de estar escondida (era para maiores de 18) e poder passar despercebida, a nível de ambiente também esteve muito bem a lembrar salas de convívio para adultos onde não faltou o varão e os sofás circulares. Só faltavam meninas de carne e osso para completar a atmosfera. Pode ser que para o ano tenham já que o festival é, agora, maior de idade.

AUTÓGRAFOS E ÁREA COMERCIAL
Este ano, na minha opinião, a conjugação da área comercial com a zona de convívio e autógrafos foi a melhor. Finalmente chegou-se à conclusão que não é possível dissociar os autores presentes das bancas. Os piores exemplos disso foram os festivais realizados na estação de metro: em 2004 a zona de autógrafos parecia ter sido improvisada na hora e numa zona longe das bancas; em 2005 a zona comercial estava escondida do resto do festival que chegou ao cúmulo de vários visitantes se queixarem de não existirem bancas.
Este ano a zona de convívio e autógrafos era um grande corredor com as bancas de cada lado, a zona de convívio entre as bancas e ao fundo a zona de autógrafos, a certas alturas demasiado pequena para tanta gente nas filas como foi o caso do Manara.

ORGANIZAÇÃO
A organização este ano apostou numa boa apresentação do festival a todos os visitantes e profissionais e não poderia ser outra coisa com 18 anos de experiência. Conseguiu-se resolver o problema do calor tropical das outras edições
No que toca a terem inserido o auditório dentro do festival para a entrega dos prémios (em 2006 era fornecido um autocarro que levava os visitantes de e para o auditório) dando a hipótese dos visitantes poderem assistir à entrega sem o incómodo de se deslocarem para o centro da Amadora, a organização esteve muito bem.
O ponto negativo vai para a má gestão das filas para o Manara. Se por um lado estava demasiada gente para os autógrafos, por outro poderiam arranjar uma solução para aqueles que não chegavam a tempo de fechar a fila. Muitos não conseguiram autógrafo nos 2 dias em que o autor esteve presente por causa do facto da fila fechar cedo demais. Valeu-me a ajuda de gente conhecida que estava na fila mas outros não tiveram a mesma sorte.

Ainda subsiste um problema que penso que muito dificilmente será resolvido e prende-se com o facto de anunciarem os convidados muito tardiamente. Autores como Francisco Caretta, Warren Craghead, Xisto Valência, Roberto Goiriz entre outros são anunciados demasiado tarde para as lojas encomendarem livros dos autores para os autógrafos. O problema agrava-se quando os autores são norte-americanos pois as encomendas da Previews (catálogo de pedidos de material bedéfilo) têm que ser feitas com cerca de 2 meses de antecedência. Este ano, e no fim-de-semana que estive presente, este problema nem se impôs muito pois os autores traziam material com eles, muitos deles para venda.
Outro ponto que tenho debatido muitas vezes é o facto dos autores “cabeças de cartaz” serem espalhados pelos fins-de-semana do festival. Este ano, e na minha opinião, os autores mais apelativos eram Milo Manara, Cameron Stewart e Lewis Trondheim que foram precisamente espalhados pelos 3 fins-de-semana que durou o festival. Isto, aliado ao anúncio tardio dos autores presentes, impossibilita os fãs que não sejam de Lisboa e arredores de estarem com os autores todos que gostariam. O problema resolvia-se com menos fins-de-semana para concentrar mais os autores mas por outro lado o número de autores presentes teria que diminuir pois uma ou duas tardes podem não ser tempo suficiente para estar com esses autores todos e esperar nas filas (muitas delas bem demoradas como as do Manara).

3 comments:

Nuno Amado said...

Porque é que não publicaste tb aqui uma critica ? isso é que era !
:-P

DC said...

Não valia a pena escrever uma nova crítica tanto tempo depois do festival, por isso aproveitei para mostrar o que escrevi para a Centralcomics.

Anonymous said...

Eu cá acho que nunca é demais criticar desde que as críticas sejam construtivas pois o que permitem é expressar o descontentamento de que há coisas que devem ser corrigidas (opinião pessoal, entenda-se) e passa a ser responsabilidade das entidades visadas procurarem ou não fazer alguma coisa para melhorar o que é por demais evidente que necessita urgentemente de ser melhorado, enviei um mail a semana passada ao mail público da amadorabd com a minha crítica que passo a transcrevê-la:

'Boa tarde,

Há alguns meses vi uma crítica construtiva sobre a FIBDA com a qual concordei em que indicava que a organização preocupava-se tardiamente com a visibilidade e informação sobre a mesma nos meios de comunicação, sendo não só mau para os visitantes como para os próprios profissionais do mercado BD pois se tivessem informação atempada de quem iria participar poderiam precaver-se em stockagem e aos visitantes poderiam procurar conhecer os autores e a sua obra, assim sendo muitos dos autores de relevo internacional entram e saem do nosso país sem terem tido quase ninguém a visitá-los.

Em qualquer outra exposição internacional normalmente com 1 ano de antecedência já se sabe alguns dos artistas que vão estar presentes e com 6 meses de antecência já as listas estão completas, a menos de 2 meses do início da FIBDA 2008 ainda não vi em nenhum meio de comunicação informação alguma informação nesse sentido.

Se realmente querem ter uma projecção internacional o que deveriam fazer, ao invés de investirem recursos em fogo de artifício que só serve para meia-dúzia de locais e para os responsáveis da câmara e autarquia poderem-se expor e sentirem-se importantes, era investir nos meios de comunicação e principalmente nos artistas e condições para os mesmos, que na minha opinião são medíocres.

O ano passado lembro-me da situação ridícula que tinham que colocar duas cadeiras sobrepostas para os artistas se conseguirem sentar e as mesas colocadas apesar de visualmente serem um pouco melhores que em anos anteriores eram desformatadas em relação ao tamanho das pessoas.

Outra das situações ridículas é que escolhem um espaço que supostamente é melhor mas não oferecem nenhumas condições para os visitantes, o estacionamento era precário uma vez que o estacionamento interior estava vedado sendo apenas permitido a convidados, uma vergonha...a não ser que já estejam a contar que os visitantes serão apenas os convidados ou pessoas que não têm carro.

Partem do princípio que a Amadora é um sítio fácil de chegar mas nem de locais principais de acesso como por exemplo o Colombo via-se qualquer indicação que permitisse chegar ao local, na minha opinião está apenas pensado para a população residente em Lisboa o que sinceramente parece-me muito redutor.

Já vou à FIBDA desde que começou e realmente é triste ver que passados tantos anos ainda aprenderam muito pouco. O mercado da BD é um mercado significativo e que movimenta valores que provavelmente os surpreenderiam e que poderiam aproveitar para o desenvolver no nosso país e rentabilizar e obterem uma projecção muito mais importante do que a que têm agora, facilitada por poderem ter algum reconhecimento a nível pelo menos da metrópole, mas parece-me que não é com as pessoas responsáveis por este evento que conseguirão fazê-lo num futuro próximo, provavelmente ainda nem se lembraram disso.

Espero que tomem este mail como uma crítica construtiva e que melhorem significativamente o nível de qualidade que oferecem, caso contrário não tenho dúvidas que a FIBDA nunca passará do que é hoje e regredirá pois as pessoas não estão para se sujeitar às fracas condições e desorganização que recorrentemente são verificadas.'