Argumento: Warren Ellis
Desenho: Juan Jose Ryp
Editora: Avatar Press
Numa altura em que a política voltou a ser tema nos comics de super heróis onde estes apresentam os seus argumentos ao sabor de pontapés e socos, Warren Ellis criou uma mini série política onde o tema de super heróis é mais uma vez analisado a uma nova luz.
A premissa desta série e muito simples e ao mesmo tempo controversa: se a tarefa de um super-herói é deter o crime sempre que o encontrar, não poderá esse super-herói deter um governo corrupto?
John Horus é o elemento mais poderoso dos Seven Guns, um grupo de super humanos que adquiriram “melhoramentos” de forma artificial e que se dedicaram a livrar a sua cidade de toda a corrupção, drogas e gangs.
Justificando-se com o facto de o governo dos EUA ter falsificado as eleições e ter entregue a segurança da nação a empresas privadas de segurança que contratam mercenários enquanto os soldados americanos morrem numa guerra baseada em mentiras, John Horus assassina o presidente e vice-presidente na véspera das comemorações do Dia da Independência exigindo eleições livres e um novo começo para o país.
Acontece que quando alguém ameaça o governo dos EUA, a resposta não se deixa esperar. Não querendo correr o risco dos outros Guns estarem envolvidos apesar das garantias dadas por John Horus, o primeiro alvo a abater é Tom Noir. Este é o mais inteligente dos Seven Guns que abandonou a prática quando uma bomba lhe custou uma perna e matou a sua colega e namorada Laura Torch mantendo os seus melhoramentos/poderes desligados há mais de um ano não sabendo se ainda funcionam.
Com o exército a invadir a cidade mas não se arriscando a atacar frontalmente os Guns, estes resgatam Tom Noir e procuram abrigo abrindo caminho de forma espectacular. Acontece que existem outros jogadores que querem os Guns destruídos. O primeiro alvo (falhado) foi Tom Noir. Com esta reunião dos restantes 5 Guns, uma força de vários agentes com melhoramentos semelhantes aos Guns são destacados para abatê-los dando azo a espectaculares, destrutivos e sangrentos combates ao longo dos 7 números desta mini série.
Black Summer é uma mistura de temas. Numa primeira vista, a ideia parece (mais uma vez) ser os super heróis a trocar argumentos e a tentarem mostrar a melhor opção política ao soco e pontapé. De facto a série está cheia de combates grandiosos mas a verdadeira mensagem está em certas críticas que o Warren Ellis faz aos EUA. Sendo um escritor inglês, Ellis consegue o distanciamento necessário para fazer uma análise política e uma forte critica aos EUA na sua intervenção no Iraque.
Esta série também consegue ser uma profunda reflexão dos super heróis: qual é a linha moral que divide os actos de um super herói dos de um criminoso?; com acesso a poderes incríveis, os heróis não conseguiriam semelhantes resultados sem recorrer à violência?; à semelhança de Watchmen, quem é que poderá controlar estes super seres e saber se não terão enlouquecido?; como é que um herói define quais são os limites aceitáveis para quebrar a lei por aquilo que considera ser certo?.
Uma nova perspectiva dada aos super heróis, resultado de uma aposta que o Warren Ellis fez com o editor da Avatar como poderão ler no texto introdutório da série.
O desenho de Juan José Ryp é extremamente detalhado. Tem um nível de pormenores que faz lembrar o de Geof Darrow mas a um ponto de quase saturação da página sem deixar de a sobrecarregar demasiado. A minúcia é tal que quase se poderia reconstruir um vidro partido a partir de todos os pedacinhos que foram desenhados. O mal dele é que não consegue transmitir movimento em muitas vinhetas. Ao desenhar um simples pontapé, o desenhador parece ter as personagens em pose e estar mais preocupado com desenhar os efeitos desse mesmo pontapé do que mostrar movimento e impacto. Ainda assim o extremo detalhe dos desenhos valem uma segunda leitura para apreciar alguns pormenores (exemplo, numa splash page de completo massacre, a um canto, muito pequenino, temos o SpongeBob).