25 February 2009

Give Me Liberty!





Argumento: Frank Miller
Desenho: Dave Gibbons
Cor: Robin Smith
Editora: Dark Horse Comics


I know not what course others may take but - as for me - give me liberty or give me death.
Patrick Henry


Diz-se que a História tem tendência a repetir-se e prova disso é esta série de culto.
Criada em 1991, Give me liberty foi uma obra visionária, reflexo dos anos anteriores que moldaram o mundo e que nos dias que correm tem uma actualidade impressionante e assustadora.
Em 1995, na altura um futuro não muito distante e de certa forma (im)provável, a América é uma poderosa nação, detestada pelo mundo inteiro. Expulsa da ONU por ter invadido territórios como a América do Sul, Israel, Cuba, Paquistão ou Indochina com a justificação de serem no man’s land, territórios abandonados e/ou conflituosos, a criminalidade aumentou drasticamente e movimentos separatistas e extremistas desenvolvem-se às centenas lutando contra a administração central pelas mais disparatadas razões.

Uma parte da população vive em mini cidades, complexos vistos pela população exterior como prisões/asilos onde os criminosos sem emenda são enviados para cumprir as suas penas ou serem tratados. A verdade é que estes complexos são verdadeiras cidades em miniatura com todas as infra-estruturas necessárias à vida normal (escolas, hospitais, etc.) onde famílias inteiras nascem, vivem e morrem em espaços minúsculos, sem as mínimas condições e sem ver alguma vez a luz do dia. É neste tipo de instituição que a protagonista desta série, Martha Washington, nasce em 1995, um ano antes de Erwin Rexall ser eleito presidente. Desde muito nova habituada a este gueto, Martha é um génio com computadores, uma lutadora nata que sabe que a única forma de escapar a esta prisão é ser abandonada à sua sorte na rua. Esta é a solução encontrada para muitos instáveis mentais não sobrecarregarem em demasia o governo, resultado dos inúmeros cortes orçamentais que o Presidente Rexall decretou.

Erwin Rexall, um sonho de presidente que faria qualquer bom conservador redneck orgulhoso (e um produto eleitoral com muitas afinidades ao filósofo grego que nos governa), eleito pela primeira em 1996, trata de aumentar ainda mais a pressão interior e exterior dos EUA.
Levando ao extremo os ideais conservadores, Rexall faz inúmeras alterações à constituição podendo-se recandidatar sem limite, impondo um regime de ferro à população, alia-se à Polícia da Saúde, uma versão distorcida da Cruz Vermelha chefiada pelo louco Cirurgião Chefe e autorizando a morte indiscriminada de milhares de sem-abrigo que há muito infestam as cidades, resultado das expulsões das instituições.


Em pleno colapso da economia mundial, em guerra com o Irão graças a um estúpido erro que fez arder inúmeras jazidas de petróleo e com a população apache a criar problemas numa refinaria, em 2009 o impensável acontece. Uma bomba incendiária mata todos os membros do governo de Rexall, deixando este em coma profundo. Como resultado deste atentado reivindicado por mais de 60 organizações, o então ministro da agricultura, Howard Nissen, assume o lugar de presidente. Democrata e ambientalista convicto, Nissen dá uma grande volta aos desígnios do país, reconhecendo a independência da Nação Apache, assinando um armistício com a Rússia e mobilizando todas as tropas para a Amazónia, local devastado pelas empresas de hambúrgueres que se tornaram imensamente poderosas e que defendem a todo o custo as pastagens da principal fonte de alimento americana.


Martha Washington (nome da mulher do primeiro presidente dos EUA), a personagem principal desta série de culto, é uma simples rapariga nascida em 1995 no seio de uma pobre família negra a viver o complexo Cabrini Green.
Conseguindo escapar do complexo com apenas 14 anos, Martha é a nossa companhia nos eventos históricos que atravessam os EUA. Martha esteve quase sempre na linha da frente destes eventos por se ter alistado à PAX, uma suposta força de paz (uma espécie de SHIELD) americana deturpada e ao serviço do próximo golpe sujo do governo e que lavou a cara com a intervenção de Nissen. Quem se alistasse na PAX veria o seu registo criminal limpo. Martha aproveitando esta oportunidade, vai para a frente de combate na Amazónia onde é ferida pelo megalómano Coronel Moretti. Esta personagem manipuladora, herdeiro de família rica, chantageia Martha e usa-a nos seus esquemas para subir no poder na PAX e no governo.


Claro que nem tudo são rosas com a administração Nissen. A guerra na Amazónia mostrou-se desastrosa com pesadas baixas de ambos os lados. Alvo de vários atentados, o seu governo começa a ser minado por dentro por nada mais, nada menos que Moretti que pretende instaurar estado marcial e que irá levar o país a uma nova guerra civil.

Lutando contra (ou ao lado) de todas as personagens de relevo da série, Martha demonstra a sua tenacidade e bravura, escolhendo sempre o menor de vários males de forma a poder salvar o país de inúmeras ameaças.

Esta obra apesar das suas virtudes, também tem os seus defeitos. Resumidamente pode-se dizer que 4 números são pouco espaço para tanta informação. O leitor é transportado a uma velocidade fenomenal pelos acontecimentos que na maioria das vezes falham em construir uma base credível para a transição entre os eventos em que Martha Washington se vê envolvida e as explicações gerais dadas ao leitor sobre vários acontecimentos que afectam a heroína.

O desenho de Dave Gibbons é simplesmente impecável. Não há muito mais a dizer além de que é superior à rigidez de se vê em Watchmen e que muito deve também às cores de Robin Smith.

Frank Miller excede-se. Descrito por alguns como “um festival de cenas de explosões numa guerra pela supremacia de uma empresa de hambúrgueres (com alguma politica pelo meio)”, não me canso de repetir que Give me liberty é uma obra visionária. Sim, temos as situações impossíveis de uma personagem que mais parece ser invulnerável. Sim, temos as habituais explosões, combates, acção e inúmeras situações limite. Sim, temos uma heroína que salva o dia inúmeras vezes. Temos também as típicas ridículas organizações extremistas como, por exemplo, a Nação Ariana Gay que já vimos variantes em obras como Ronin ou Dark Knight Returns.
E no entanto esta obra é tudo isso e muito mais superando-se a si mesma.
Num mercado infestado de homens musculados e beldades esculturais semi-despidas todos os dias ao soco e pontapé a tentar provar algo (?), é preciso tirar o chapéu à Dark Horse e à dupla de criadores da obra por terem dado um verdadeiro salto de fé. Ter como heroína uma maria rapaz negra armada em Rambo foi um risco tremendo para todos os envolvidos… E ainda assim Miller superou.


Como já referi atrás, toda esta mini série encontra-se assustadoramente actual. Quase todos os acontecimentos nele encontram um paralelismo com a actual situação no mundo. É difícil pensar que esta obra foi produzida há mais de 15 anos numa altura em que o mundo se parece tanto como hoje. Poder-se-ia dizer que Give me liberty é o reflexo dos acontecimentos passados antes da sua produção e no entanto, o leitor facilmente se esquece destes pormenores e trata de associar eventos actuais aos da obra.
A Guerra na Amazónia é uma clara alusão à desastrosa Guerra do Golfo (ou ainda a Guerra do Vietnam) mas hoje, mais do que nunca, pode ser feita um paralelismo com a actual Guerra do Iraque e futuramente a Guerra do Afeganistão já que os EUA estão a retirar do Iraque para se concentrarem duramente neste país que lhes está a ficar fora de controlo muito rapidamente;
O colapso da economia e de Wall Street que levaram aos caos social é uma cópia exagerada (?) do que actualmente se passa no mundo;
A excessiva poluição produz um pesadelo ambiental que nos preocupa actualmente e que podemos ver as consequências nesta obra;
Também é incrível ver a semelhança que pode ser feita entre Rexall e Bush (ou até em menor grau o dito filósofo) e respectivos sucessores, Nissel e Obama que muda(ra)m a imagem da América. Curiosamente, Nissen toma posse em 2009, o mesmo ano em que Obama também foi oficialmente declarado presidente dos EUA.

Com estas semelhanças e muitas outras que vos desafio a descobrir, não há margem para dúvida em afirmar que Frank Miller foi um visionário e criou uma obra obrigatória que merecia um muito maior destaque e uma profunda análise. Esta obra merece, mais do que nunca, uma leitura muito séria. Que nos sirva para pensar, nem que seja por um bocadinho, no estado actual do mundo e no que uma simples pessoa (cada um de nós) pode dar de si para criar para contribuir para um mundo melhor tal como Martha fez.

A lista completa de estórias é a seguinte:
-Give Me Liberty (mini série de 4 números)
-Martha Washington Goes to War (mini série de 5 números)
-Happy Birthday, Martha Washington (one-shot)
-Martha Washington Stranded in Space (one-shot)
-Martha Washington Saves the World (mini série de 3 números)
-Martha Washington Dies (one-shot)

Encontra-se em preparação um Omnibus de mais de 600 páginas com tudo o que esteja referente à personagem de Martha Washington que estava previsto sair em 2008. Actualmente no site da Amazon fala em Julho deste ano. Resta-nos esperar.

NOTA: Quem tiver a 3ª e 5ª séries para venda, que me contacte por favor já que são as únicas estórias que me faltam para acabar a colecção.

19 February 2009

Interviewing Pat Mills

Pat Mills, personality that goes unnoticed to the comics readers, is known as the "godfather of British comics." Founder of the 2000 AD magazine that has made known to the world many respected artists, Pat is the creator of Marshal Law (with Kevin O'Neill), Requiem: Chevalier Vampire (with Olivier Ledroit), writer of Judge Dredd, among many other works.
Irreverent and somewhat controversial, Centralcomics took advantage of his recent presence of the author in FIBDA, in order to do an interview and discuss the current tendency of the comics market.

Pat Mills, figura que passa algo despercebida aos leitores de comics, é conhecido como o “padrinho dos comics britânicos”. Fundador da revista 2000 AD que deu a conhecer ao mundo inúmeros artistas conceituados, Pat é criador da série Marshal Law (com Kevin O’Neill), Requiem: Chevalier Vampire (com Olivier Ledroit), escritor do Judge Dredd, entre muitas outras obras.
Irreverente e algo polémico, a Centralcomics aproveitou a recente presença do autor no FIBDA para lhe cravar uma entrevista e discutir a actual tendência do mercado bedéfilo.



Diogo Campos: You're known has the "godfather of British comics". You created 2000AD which opened the doors to the British invasion of American comics where many authors like Garth Ennis, Sean Phillips, Alan Moore, Warren Ellis or Neil Gaiman first showed up to a vast audience. How do you see yourself as a historical character on the comics history?
Pat Mills:
2000AD was a European influenced comic and I prefer European comics, hence why I write Requiem for France. So the term Godfather is kind of misleading as it suggests a connection with this move to America which I don't relate to. Although I have worked for America, I don't like super heroes because they are mainly phoney, a travesty of the meaning of the word hero, and I equally dislike most of Vertigo which is "corporate cool", rather than genuinely cool. Hence why I write Marshal Law - super hero hunter. So I see myself as an Outsider, moving in the opposite direction to everyone else, a direction that is better for my soul, if not my bank balance.

Diogo Campos: És conhecido como o padrinho dos comics britânicos. Criaste a 2000AD que abriu portas para a invasão britânica dos comics americanos onde muitos autores como Garth Ennis, Sean Phillips, Alan Moore, Warren Ellis ou Neil Gaiman foram apresentados pela primeira vez a uma vasta audiência. Como é que te vês sendo uma figura histórica dos comics?
Pat Mills:
A 2000AD foi um comic com influências europeias e eu prefiro comics europeus, daí ter escrito o Requiem para o mercado francês. Por isso, o termo “padrinho” é um pouco enganador já que sugere uma ligação com esse movimento para a América com o qual eu não me relaciono.
Apesar de ter trabalho para os EUA, não gosto de super heróis porque são travestis do significado da palavra herói. E não gosto igualmente da Vertigo por ser “corporative cool” em vez de “genuinamente fixe”. Daí eu ter escrito o Marshal Law – caçador de super heróis. Por isso sinto-me de certa forma afastado desses movimentos, seguindo numa direcção oposta à de toda a gente, uma direcção que é a melhor para a minha alma, se não para a minha conta bancária.



DC: Now that I think of it, even Vertigo doesn't dare to do "certain things" that are common in French comics. It's the self censorship that never abandoned American comics?
PM:
Well observed.

DC: Agora que penso nisso, mesmo a Vertigo não se atreve a fazer “certas coisas” que são comuns na banda desenhada francesa. Será a auto censura nunca abandonou os comics americanos?
PM:
Bem observado.



DC: What do you think is the reason?
PM:
It's part of a big corporation. I have occasionally raised genuinely cool but very serious issues for stories in their direction. Negative or No response.

DC: Qual te parece ser a razão?
PM:
A Vertigo faz parte de uma grande corporação. Ocasionalmente já lhes enviei ideias genuinamente fixes mas sérias para histórias na direcção deles. Acabei por obter respostas negativas ou mesmo nenhuma resposta.



DC: Garth Ennis's The Boys was turned down by Vertigo before Dynamite picked it up for instance. Maybe I’m not paying enough attention but it seems all the publishers are always a bit “careful” with what they launch. Do you think even the small ones have the same corporative issue?
PM:
Possibly. The days when American comics did really "brave" material are long gone. Violent isn't the same as brave.
E.G. Last Gasp American comics in the 70s were the first to expose the Karen Silkwood affair. That is true bravery!

DC: The Boys, do Garth Ennis, foi recusado pela Vertigo antes da Dynamite ter pegado nele por exemplo. Talvez não esteja a prestar atenção mas parece que todas as editoras têm um certo “cuidado” com aquilo que publicam. Achas que até as pequenas editoras têm os mesmos “receios” que as grandes?
PM:
Possivelmente. Os dias em que os comics americanos produziam material “arrojado” há muito que se foram. Violência não é o mesmo que coragem e bravura.
Por exemplo, a Last Gasp American comics, nos anos 70, foram os primeiros a expor o caso Karen Silkwood [*]. Isso sim é verdadeira bravura!



DC: Moving on to a general idea, how do you see the comics market?
PM:
Very conservative in Britain and America. Innovative in Europe - although sometimes I get the feeling European artists and writers are overly influenced by UK and US and France when their own culture has as much or more to offer

DC: De um modo geral, como é que vês o mercado bedéfilo?
PM:
Muito conservador no Reino Unido e na América. Inovador na Europa – embora às vezes eu tenha a sensação que os artistas e escritores europeus são demasiado influenciados pelo Reino Unido, EUA e França quando a sua própria cultura tem tanto ou mais para oferecer.



DC: What do you think will be the future of comics?
PM:
I think they are booming. But they have to less to actually say now because we live in a very conservative decade

DC: Qual achas que irá ser o futuro da banda desenhada?
PM: Acho que se está a expandir. Mas agora têm menos para dizer porque vivemos numa década muito conservadora.



DC: Do the American publishers still track down creators from 2000AD?
PM:
I'm sure they do. But this last question implies there is some great achievement if they do. Why not French publishers? Why do we have to be tracked down anywhere? What about if we are already where we want to be? The world is far too American orientated and we need to resist neo-colonialism. Leave that to Tony Blair who - to my country's shame - was so happy to kiss Bush's ass. In comics, we don't have to do the same.

I will give you an example:
A very important American publisher "tracked down" an artist on one of my British stories and wanted him to dump my story and work for them. The artist said no to them. They said - but we can give you more money. He said no again. They were angry because the dollar didn't buy him. He preferred to work for Britain. He preferred to work on my story because he cares about the story and about art. The dollar does not always win.

These are the things we as Europeans should be celebrating rather than the constant admiration for American corporate comics.

We should be equal partners, treated with equal respect. The best way to achieve this is to take pride in our European culture and our own comics. I loved the Portuguese comics I saw when I was over in Lisbon. They were great. But I fell asleep at an editorial meeting of Marvel Comics in New York once. Seriously! Super Heroes! What is all the fuss about? Marshal Law needs to pay them all a visit.

DC: As editoras americanas ainda vão à procura de criadores da 2000AD?
PM:
Tenho a certeza que sim. Mas esta questão implica que exista algum grande feito se são escolhidos. Porque não editoras francesas? Porque é que temos de ser repescados de algum sítio? E se nós estivermos exactamente onde gostamos de estar? O mundo é demasiado orientado para os americanos e nós temos que resistir a esse neo-colonialismo. Deixem isso para o Tony Blair que – para vergonha do meu país – esteve contente em lamber as botas do Bush. Na banda desenhada não precisamos de fazer o mesmo.

Vou dar-te um exemplo.
Uma importante editora americana “descobriu” um artista de uma das minhas estórias britânicas e queria que ele largasse a minha história e fosse trabalhar para eles. Ele disse que não. Eles disseram: “mas nós podemos dar-te mais dinheiro”. Ele disse não novamente. Eles ficaram zangados porque o dólar não o comprou. Ele preferiu trabalhar para o Reino Unido. Ele preferiu trabalhar na minha estória porque se preocupa com a estória e arte. O dólar nem sempre ganha.

Estas são as coisas que nós como europeus devíamos celebrar em vez da constante admiração pelos “corporate comics” americanos.

Deveríamos ser parceiros iguais, tratados com o igual respeito. A melhor maneira de atingir isto é ter orgulho na nossa cultura europeia e nas nossas BDs. Eu adorei as BDs portuguesas que vi quando estive em Lisboa. Eram altamente. Mas já adormeci uma vez numa reunião editorial da Marvel Comics em Nova Iorque. A sério! Super heróis! O que há de tão especial neles? O Marshal Law precisa de fazer-lhes uma visita!




DC: I’m glad you enjoyed our comics. Was there anyone or anything that caught your attention?
PM:
Yes, the comic strip about TB as the enemy in a football game. I thought that was amazing.

DC: Estou contente que tenhas gostado das nossas BDs. Houve alguém ou algo que te tenha chamado a atenção?
PM:
Sim, a tira acerca da tuberculose como o inimigo num jogo de futebol. Achei que era espantoso.



DC: Well it’s a common thing the American publishers track down authors from other smaller publishers. The small ones have the hard work launching someone’s career and when they do, the major ones try to pick them up.
There’s this general idea that the pinnacle of a comics artist is working for the 3 or 4 major publishers.
PM:
In Britain - yes. But in Europe working for the top French publishers is the objective. So artists in Poland and Serbia would want to work for France - Soleil, Dargaud etc. - rather than the States.

We have to get away from this idea that the world revolves around America.

For example in Berlin... a popular comic-based Hollywood movie came out , but my German film-student friends had never heard of it the week it was Number Three in the German charts. They were far more interested in European cinema. I am sure they are not alone.

DC: Também é normal as editoras americanas procurarem autores de outras editoras mais pequenas. Estas têm todo o trabalho de lançar a carreira de alguém e, quando o fazem, vêm as grandes apanhá-los.
Existe uma ideia geral que o pináculo da carreira de um artista de BD é trabalhar para as 3 ou 4 maiores editoras.
PM:
No Reino Unido – sim. Mas na Europa, trabalhar para as grandes editoras francesas é o objectivo. Por isso é que artistas da Polónia e Sérvia prefeririam ir trabalhar para França – Soleil, Dargaud, etc. – do que para os Estados Unidos.

Temos que nos afastar da ideia que o mundo gira à volta da América.

Por exemplo, em Berlim… um filme de Hollywood baseado num comic popular saiu, mas os meus amigos alemães estudantes de cinema nunca tinham ouvido falar dele na semana em que o filme ficou em 3º lugar nos tops alemães. Eles estavam muito mais interessados no cinema europeu. Estou certo de que eles não estão sozinhos.



DC: They give you more audience and apparently pay more but there are other alternatives. 2000AD seems to be one and like 2000AD, there are other magazines and publishers looking for new people. For those who are already out there trying to be noticed, what can you recommend so they can move on to higher grounds?
PM:
If you are an artist - work for France. If you are a writer - find an artist and work for France. But it's just as tough as the States... However, anyone who has talent will eventually find a home.

DC: Eles dão-te mais público e aparentemente pagam mais mas existem outras alternativas. 2000AD parece ser uma delas e tal como a 2000AD, existem outras revistas e editoras à procura de nova gente. Para aqueles que estão actualmente a tentar ser notados, o que podes recomendar para que possam mover-se para níveis mais altos?
PM:
Se és um artista – trabalha para a França. Se és um escritor – encontra um artista e trabalha para a França. Mas é tão difícil como nos Estados Unidos… Apesar disso, qualquer um com talento consegue eventualmente encontrar uma casa.



DC: Of all the things, why comics?
PM:
Me? I guess cos I can say the things I want to say

DC: De todas as coisas, porquê comics?
PM:
Eu? Acho que é porque posso dizer as coisas que quero dizer.



DC: But how and when you did you decide you wanted to do comics for a living? What was your first experience with comics?
PM:
When I worked for a publishers who produced comics. Previously, as a kid, I had no real experience of comics.

DC: Mas como e quando é que decidiste que querias viver a fazer BD? Qual foi a tua primeira experiência com BDs?
PM:
Quando trabalhei para uma editora que produzia comics. Antes, como criança, não tive nenhuma experiência com BDs.



DC: What comics do you usually read?
PM:
French or Italian comics

DC: Que BDs costumas ler?
PM:
Banda desenhada francesa ou italiana.



DC: Do you have any authors and/or titles you prefer?
PM:
Bilal. Druillett. Conquering Armies.

DC: Tens algum autor e/ou série que prefiras?
PM:
Bilal. Druillett. Conquering Armies.




DC: Besides John Wagner, you were one of the creators who most contributed to the Judge Dredd’s character and world early conceptions. You’ve watched Dredd’s world start from scratch so, here's the inevitable question, what do you think of the movie and Stallone as Dredd?
PM:
Not as bad as people said. There are worse movies out there!

DC: Além de John Wagner, tu foste um dos criadores que mais contribuiu para a personagem Judge Dredd e para a caracterização do seu universo. Tu viste o mundo do Dredd começar do nada e por isso, fica aqui a inevitável pergunta, o que achas do filme e do Stallone como Dredd?
PM:
Não é tão mau como as pessoas pensam. Há filmes muito piores por aí!



DC: Many people (like me) are eager to know: when we'll see a Requiem compilation in English?
PM:
Oh, yeah and me! It's a slow process. Panini UK are interested, possibly tieing in with Paninis elsewhere. But Heavy Metal are currently doing US edition.
Finally!!

DC: Muitas pessoas (como eu) estão ansiosas por saber: quando é que vamos ter uma compilação do Requiem em inglês?
PM:
Oh, sim e eu! É um processo lento. Há interesse por parte da Panini UK e possivelmente das restantes Paninis. Mas a Heavy Metal está neste momento a fazer a edição americana.
Finalmente!



DC: And what about Claudia Chevalier Vampire? Will it be collected along with Requiem?
PM:
Separate collection in France. Also in States

DC: E em relação à Clauda Chevalier Vampire? Também será compilada junto com o Requiem?
PM:
Colecções separadas em França. O mesmo nos Estados Unidos.



DC: Can you reveal something of your future projects? Anything new we should be looking forward to?
PM:
More of the same. In France, Sha will be reprinted shortly. In Britain... I write various 2000AD characters: Savage, Judge Dredd, ABC Warriors, Greysuit, Defoe, Slaine.
I also write audio plays for Doctor Who and am working on my third one soon
And next year Top Shelf will publish a Marshal Law Omnibus.

DC: Podes revelar-nos alguma coisa dos teus projectos futuros? Alguma coisa que deveríamos estar atentos?
P:
Mais do mesmo. Em França, o Sha vai ser reeditado brevemente. No Reino Unido… escrevo várias personagens para a 2000AD: Savage, Judge Dredd, ABC Warriors, Greysuit, Defoe, Slaine.
Também escrevo peças do Doctor Who para a rádio e estou neste momento a trabalhar na minha terceira. E este ano a Top Shelf irá publicar Marshal Law Omnibus.



DC: Do you have any advice to young creators who want to create their own projects?
PM:
Write and draw from the heart about something you really know about. Use Writer's Journey as your guide.
Good luck!

DC: Tens algum conselho para os jovens artistas que querem criar os seus próprios projectos?
PM:
Escrevam e desenham do coração acerca de algo que realmente saibam e conheçam. Usem o The Writer’s Journey como guia.
Boa sorte!


[*] Activista sindical americana suspeita de ter tido uma morte arranjada pela companhia de energia nuclear onde trabalhava quando investigava denúncias de irregularidades.



If you want to use this interview, be my guest but please let me know. My contact is in my profile.

Photo by Gabriel Martins.