06 October 2009

Hellblazer: Shoot

Argumento: Warren Ellis
Desenho: Phil Jimenez e Andy Lanning
Editora: Vertigo


Este comic que nunca viu a luz do dia está disponível para vossa leitura ilegalmente (obviamente) nos links mais abaixo. Escrito nos idos tempos em que o Warren Ellis escrevia o título Hellblazer, diz-se que este comic foi a razão do Ellis ter batido com a porta na Vertigo abandonando o título e, até hoje, sem voltar colaborar regularmente em títulos directamente ligados à editora.

Como já é hábito dos autores da british invasion, o facto de estarem alienados e poderem olhar com outros olhos para a sociedade americana permite-lhes mostrar aquilo que eles não querem ver. A razão do afastamento desta história das bancas foi o facto de ter ocorrido o massacre de Columbine antes da publicação do mesmo. Apesar da história estar pronta, a editora achou por melhor não lançá-la o que levou a sérios protestos do escritor. Resumidamente a Warner e DC acobardaram-se e acharam por bem ignorá-la. Assim, aquele que iria ser a revista Hellblazer #141 não viu a luz do dia até hoje, 10 anos volvidos.

Este embrólio todo não deixa de ser irónico pois, conforme podem ler, qual catarse do massacre, esta história funcionaria mil vezes melhor para abanar consciências (assim como o Columbine do Gus van Sant ou ainda o documenário do Michael Moore) por não ter medo de mostrar a realidade crua e dura em vez da já habitual atitude de enterrar a cabeça na areia e culpar a televisão, jogos de vídeo ou... sim, adivinharam, os "comic books" de todos os males.

O senado americano decide abrir uma investigação às causas dos recentes tiroteios e massacres em escolas entre alunos. A psicóloga responsável pela investigação aproveita para escrever uma tese acerca da patologia de massacres premeditados e a psicologia das vítimas. Obcecada com o caso, ela inclusive adormece todos os dias a ouvir a gravação do suicídio em massa de Jonestown e assiste repetidamente às gravações dos tiroteios. Mas é nesses vídeos que ela repara que existe algo comum a alguns recentes vídeos: um homem inglês de meia idade de gabardine.

Sim, é o nosso conhecido e velho amigo John Constantine que deu um salto ao outro lado do Atlântico a pedido de um amigo para descobrir o que aconteceu ao filho que foi morto num massacre idêntico no Louisiana. Convido-vos a ler e reflectir neste que é um dos melhores contos do personagem que li até hoje (não foram tantos quanto isso hehe).

Este conto pode ser lido aqui ou aqui mas atenção, despachem-se porque mais cedo ou mais tarde a DC irá descobrir estes sites e exigir a eliminação dos ficheiros, ainda para mais que o Warren Ellis no seu site/blog voltou a acordar as hostes para esta história.

03 October 2009

Sketch Amealhado #9

FILIPE ANDRADE



O primeiro sketch do FIBDA 2007, da autoria do Filipe Andrade. Ainda na altura que o BDjornal saía regularmente, BRK fez grande furor no mundo bedéfilo pelo facto de uma dupla desconhecida até então ter feito um projecto tão arrojado e mediático.
Filipe Pina e Filipe Andrade, a conhecida dupla da série BRK, também têm um conto no Venham+5 #5 e preparam um livro infantil.

Tendo feito este desenho a lápis no FIBDA, decidi que o desenho ficaria melhor finalizado a tinta e portanto esperei pela próxima vez que encontrasse esta dupla. No IV Festival de Beja em 2008, aproveitei para lhes pedir que me "finalizassem" o desenho. Pior a emenda do que o soneto, todos concordamos que devia ter deixado o desenho como estava e agora espero pela próxima oportunidade para conseguir um novo desenho.

19 September 2009

Sketch amealhado #8

PEDRO PIRES



Mais um excelente autor português. Apesar de passar despercebido publicou uma BD de grande sucesso pela Devir, Anjos e Outras Armadilhas que hoje se encontra esgotadíssimo além de dois contos para a Colecção Quadradinho.

Facto curioso sobre este autor é que ele é daltónico. Mas este problema em nada diminui o seu talento já que lhe permite, e isso é muito evidente nas suas obras a cores, usar uma palete fora do normal.

Este desenho foi feito na festa de Halloween de 2006 da loja Centralcomics. Na altura o autor não tinha canetas com ele tendo feito este desenho com a única caneta que eu tinha, uma Rotring a tinta-da-china com um bico de 0.5 mm! Verdadeira paciência de chinês e grande dedicação que o autor teve neste espectacular desenho utilizando uma caneta tão fina.

12 September 2009

Sketch amealhado #7

DERRADÉ





Outro autor que abrandou muito significativamente a sua produção de BD é o Derradé. Outrora um grande nome do humor português, chegou a lançar uma revista humorística HL Comix que infelizmente teve pouca duração. A maioria das histórias que iria formar o 3º número da revista estão no hilariante Moda Foca. Da sua autoria ainda se encontram Fúria e Fava! além de Pai Natal: Um Estudo Morfológico (este em colaboração com Geral), todos lançados pela Polvo.

Este desenho dos The BadSummerBoys Band foi feito durante a entrega dos prémios Amadora 2006, a mais curta visita que alguma fiz ao festival. Estando a entrega programada para um local longe do Forúm Camões, a organização forneceu autocarro a quem quisesse ir. Tendo o Derradé ficado para trás, pedi-lhe então para me assinar algumas obras onde ele tinha participado além de um desenho no meu bloco enquanto eu, o Diogo Valadas e o Hugo Jesus fomos à entrega.

Para aqueles que estiveram presentes e se recordam, os autores João Mascarenhas e José Abrantes tiveram uma forte claque no fundo da sala. Eramos nós que sempre que ouvíamos o nome dos autores fazíamos uma algazarra como se fosse a final de algum mundial de futebol. De momento não me lembro dos resultados mas tenho ideia de que o Mascarenhas ganhou o trofeú para melhor fanzine com o segundo número do Menino Triste.

05 September 2009

Sketch Amealhado #6

FILIPE ABRANCHES




Filipe Abranches, profícuo autor de BD e ilustrador, é responsável por diversas ilustrações e capas de livros de varíadissimas editoras. É também autor de, por exemplo, Alô?, 16-1 e Solo, todos editados pela Polvo. Se não estou em erro, está também ligado único curso superior de banda desenhada do país no pólo de Guimarães da Escola Superior de Artes do Porto.

Este desenho de um mouro feito integralmente a caneta foi realizado nas poucas horas que estive presente na edição de 2006 dos festival da Amadora onde nem tempo tive para ver o piso inferior de exposições.

Facto curioso, comecei recentemente a ler a edição da Clássica Editora do livro O Império do Medo da autoria de Brian Stableford (recentemente reeditado pela Saída de Emergência) e constatei quase por acaso que a capa reproduzida ao lado vem creditada como sendo da autoria deste autor.

03 September 2009

Pax Romana

Argumento, Desenho, Cor:
Jonathan Hickman
Editora: Image Comics


2053 d.C., o Islão é a religião predominante na Europa ocidental.
O Vaticano financiou secretamente durante décadas certas instituições, laboratórios e cientistas para poderem deter e manter secretos certos avanços científicos. O mais recente avanço tecnológico? Viagens no tempo de grandes massas, em completa segurança mas sem hipótese de retorno.
Uma tecnologia potencialmente perigosa e muito apetecível torna-se assim uma arma nas mãos do Vaticano que pretende usá-la para moldar e, nas palavras deles, salvar o futuro da Humanidade, destruindo o passado.

Esta é uma premissa que já vimos e lemos em inúmeras histórias sobre viagens no tempo e possíveis alterações do curso da História com determinados objectivos que acabam bem ou mal. Apesar de batido e de acharem que já se experimentou tudo o que havia para ser lido e visto, a verdade é que muito dificilmente se encontra algo ao nível de Pax Romana.

É ponto assente pelo Papa Pio XIII que jamais se intervirá na vida de Cristo. Como o próprio diz, a ideia não é tornarem-se colaboradores de Cristo ou criar um paraíso artificial na Terra mas sim consolidar o poder da Igreja depois da ressurreição e antes da criação do islamismo.

5000 homens, armas nucleares, 4100 toneladas de ouro e a mais recente tecnologia militar comandada pelos cardeal Beppi Pele e o general Nicholas Chase, a maior mente militar do seu tempo, são enviados para 312 d.C. para ajudarem o imperador Constantino a consolidar o poder. Mas o que seria uma missão de fortificar a sua relação entre o império romano e a igreja aumentando o poder desta no futuro, o que acontece é uma tentativa de provocar uma revolução civilizacional que só aconteceria 1300 anos mais tarde de uma forma extremamente condensada e bem planeada. Uma experiência social que o intitulado Exército Eterno de Roma tenta produzir durante algumas gerações na tentativa de criar a melhor sociedade possível, tudo graças à esperança média de vida destes homens que ronda os 200 anos, fruto do futuro de onde vêem.

Acontece que, por mais bem preparados que estes homens estejam, por mais avançados que sejam e mesmo sendo a personificação do pináculo evolutivo até então, não deixam de ser humanos. Intrigas, discórdias e sede de poder assolam estes homens que com pequenos grandes actos vão mudar a História da humanidade de uma forma que jamais previram e que vos convido a descobrir neste livro.

No final do livro é possível ver um cronograma, o único extra, com os principais acontecimentos do mundo a partir do final dos acontecimentos desta história. O próprio Jonathan Hickman diz que, apesar de ser uma história com um final (se bem que aberto), irá continuar a contar a história desta linha temporal alternativa estando previsto para daqui a uns tempos a continuação 150 anos depois dos acontecimentos do actual livro.

Jonathan Hickman é um designer profissional que de um momento para o outro deu o salto para os comics. Começou na Image com certas mini-séries sempre ligadas a ficção-científica que em maior ou menor grau mostram um futuro perto com temáticas bem actuais como o jornalismo e o seu papel na política (Nightly News) ou engenharia genética ao alcance de todos (Transhuman).

A sua formação de designer permite-lhe um estilo de desenho (chamemos-lhe assim), completamente fora do habitual. Pintura, colagem e desenho digital misturam-se numa amálgama de cores simples ajudando ao estilo de escrita e ambiente diferentes do habitual. O layout das vinhetas e diálogos também é de uma simplicidade que nos chega a fazer pensar "como é que nunca me lembre de fazer isto?" e que tenho que concordar com a autora da introdução que será muito brevemente copiado num estilo que terá o nome do autor.

Com uma sensibilidade muito diferente da habitual no que toca à ficção científica, Hickman, que criou este livro todo de raiz (desenho, cores, legendagem, paginação, design), é um dos novos valores dos comics americanos, uma aposta segura que aconselho a manterem debaixo de olho.
Muito recentemente deu o salto para a Marvel sendo um dos escritores destacados no selo The Write Stuff onde a editora mostra as mais recentes apostas em termos de argumentistas. Actualmente está a escrever Secret Warriors em colaboração com Brian Michael Bendis além de ser o novo argumentista apontado para substituir Mark Millar aos comandos da revista Fantastic Four. Claramente uma estrela a subir a uma velocidade vertiginosa.

Para lerem gratuitamente o primeiro número desta mini-série de 4, cliquem aqui.

29 August 2009

Sketch Amealhado #5

SÉRGEI




Mais um autor português, desta vez o visado é Sérgei. Desaparecido do mapa bedéfilo nacional, este autor já publicou na antologia Onze Autores no BDjornal 2005-2006 além do premiado livro Os Compadres seguido da sequela Flop Tecnológico, ambos lançados pela também desaparecida Polvo.

Não faço ideia do que lhe tenha acontecido pois procurei e o site oficial Sergei Cartoons encontra-se indisponível.

Realizado na edição de 2006 do festival da Amadora, este é o primeiro da curta série de desenhos desse festival onde também pedi uma rápida dedicatória nas BDs que o autor realizou para a tal antologia editada pela pedranocharco. Sendo um trabalho antigo do autor, este ficou encantado por vê-lo como já é habitual quando se levam coisas raras/antigas para os autores assinarem.

22 August 2009

Sketch amealhado #4

JOÃO MASCARENHAS


O maior autor de BD em Portugal. Não a sério, ele é literalmente o maior!
João Mascarenhas, engenheiro de profissão e autor por paixão é o criador da multi-premiada personagem Menino Triste.
Conhecemo-nos numa antiga encarnação da Centralcomics. Como vinha muitas vezes a Braga por razões profissionais, tive que lhe indicar a 100ª Página, única livraria com uma respeitável secção de BD por cá e que já acolheu um evento organizado pelo João e pelo Gastão Travado.
Saudades desses almoços, mini-mini-tertúlias de BD em Braga onde este desenho foi feito totalmente a caneta mostrando o domínio e versatibilidade que o João tem para o desenho.

15 August 2009

Sketch amealhado #3

CAMERON STEWART


Eis que chegamos ao primeiro autor estrangeiro desta rubrica. Famossíssimo pelas colaborações com Grant Morrison em Seaguy e Seaguy: Slaves of Mickey Eye entre outros títulos, Cameron Stewart é mais um dos muitos escravos desenhadores da indústria norte-americana tendo começado, como muitos, pelos títulos infantis da DC Comics, mais propriamente Scooby-Doo. Felizmente o talento foi salvo a tempo pelo conhecido feiticeiro de magia do caos.

Novamente no Festival Internacional da Amadora 2005, deixei este autor para a última hora. Ao entrar na fila reparei que o autor não estava presente apesar de estar previsto no programa. Tinha-se sentido mal e foi ao exterior apanhar ar. Aparentemente tinha desmaiado ou quase, não me recordo bem, mas voltou fresco como uma alface para mais uma literal fornada de desenhos. Não sei se se lembram mas na altura a organização foi bastante criticada pelo local escolhido que não tinha ventilação adequada (suspeito que não tinha nenhuma) e tiveram que usar botijas de oxigénio para compensar a falta de renovação do ar.

Como é hábito antes dos festivais, fiz uma pesquisa acerca do autor e encontrei uma série de desenhos de vários autores inspirados no filme Kill Bill. Entre eles estava o do Cameron e, como podem ver, pedi-lhe para ele desenhar a Noiva, Uma Thurman. Acontece que ele não se lembrava da cara dela e durante um bocado viu-se às aranhas para a desenhar até que me lembrei que tinha uma imagem do filme no meu telemóvel.

Nada feito! Na imagem, a Noiva tem a espada a esconder-lhe a boca mas ele lá improvisou caprichando nos excelentes salpicos de sangue. Tanto se dedicou a isso que, como podem ver com atenção, se esqueceu do punho e da ponta da espada despachando-os. Isto tudo enquanto que o Ed Brubaker se lembrou de discutir os filmes do Tarantino com o Cameron. Ora, como eu disse atrás, deixei o Cameron para o final... Imaginem eu preocupado com horários de comboio e metro, o desenhador a caprichar em salpicos de sangue enquanto discutia para o lado a obra cinematográfica do Tarantino. Espero que o Cameron me perdoe por ter saído a correr e quase sem agradecer :D
Ainda assim está um excelente trabalho que me orgulho de ter.


PS-Acabei por ter que esperar pelo comboio.

14 August 2009

Vou ali ao lado e já venho




A algumas horas de partir para o festival só tenho a dizer que a organização é de uma incompetência atroz!!
Prometeram um site oficial para o festival e nada...
Horários das exposições tem que ser o próprio interessado em procurar pelos sites dos edificios onde estão as respectivas exposições...
Horários para os autógrafos nem vê-los...

08 August 2009

Sketch amealhado #2

RICARDO FERRAND



Ricardo Ferrand ilustrador e 'banda-desenhista', fico na dúvida se este será o seu site oficial ou não. Conhecido pelas obras A Verdadeira História de Jota Cristo e O Homem que não parava de urinar, ambas editadas pela Witloof, a verdade é que este autor não teve sorte na editora escolhida para publicar as suas BDs. Ultimamente faz ilustração publica diversas BDs infantis como Que Grande Trabalheira! que teve destaque no Festival Internacional de BD da Amadora de 2005 onde consegui este desenho a lápis e marcador.

01 August 2009

Sketch amealhado #1

Como prometido, aqui está a primeira nova rubrica que no início será automática.
À semelhança dos Desenhos Autografados do Verbal, irei colocar por ordem de idade todos os sketchs que coleccionei ao longo do tempo. Cada um destes posts terá um pequeno apontamento sobre o autor e histórias por detrás de cada um.

José Abrantes


José Abrantes é provavelmente o mais conhecido autor de BD infantil que temos em Portugal, famoso por personagem como o preguiçoso Horús, Zu, a feiticeirazinha Morgana ou Dakar, o Minossauro.

Este sketch feito a lápis e marcador foi obtido no Festival Internacional de BD da Amadora de 2005, a minha 2ª ida ao festival onde passei o fim-de-semana inteiro por lá. Na altura comprei vários livros das Aventuras do Zu que levei para umas primas minhas. 4 anos depois e sempre que me encontro com os pais eles pedem-me mais livros do Zu porque as miúdas adoram os livros que lhes levei. E todas as vezes esqueço-me de encomendar mais...
Como já tem sido hábito, todas as minhas idas ao festival calham com a mudança de hora e como tem sido hábito, esqueço-me sempre dessa mudança quando poderia aproveitar mais uma hora na cama. Nesta edição do festival esse esquecimento não foi excepção para mim e o José Abrantes também não se lembrou tendo chegado uma hora mais cedo do que que o previsto no programa. Assim, ficamos com a zona de autógrafos quase toda para nós onde várias funcionárias de limpeza pediam aos poucos autores presentes que fizessem retratos delas. E bem que insistiam...

29 July 2009

Diário de Bordo VI - V Festival Internacional de BD de Beja

A partir de agora irei disponibilizar aqui todos os textos que fizer mesmo que estejam disponíveis noutros sites. Devido ao facto da Centralcomics ter sido recentemente remodelada, e para evitar ter que recuperar os vários textos que estavam perdidos, todos os textos irão estar disponíveis aqui.

Pderão ver mais fotos na minha conta do Flickr, mais propriamente na pasta sobre Beja 2009.


Mais um ano, mais uma edição do festival de Beja. Se o ano passado foi o desabrochar do festival com um ‘cabeça de cartaz’ sonante, este ano foi a confirmação. Da minha parte, fica aqui uma descrição dos dias 29 a 31 Maio.

Posso dizer que o festival, antes de ter começado oficialmente, me reservou muitas surpresas. Tendo escrito um texto sobre Gary Erskine para o Splaft, o catálogo do festival, fiquei extremamente surpreendido por saber que ia ter o privilégio de acompanhar Gary Erskine e a sua mulher na viagem de Lisboa para Beja onde pude constatar a enorme simpatia e simplicidade deste autor escocês.

Chegados à Galeria do Desassossego, já tínhamos à espera uma bela comitiva de autores constituída por Marco Mendes, Denis Deprés acompanhados pelas respectivas mulheres, Craig Thompson e Sierra Hahn, editora da Dark Horse (que surpresa das surpresas era a companheira de Craig) e o grande Mattotti. Isto sem falar da boa disposição de Geraldes Lino que chegou mais tarde.

Depois de termos experimentado os mais diversos estranho pratos da casa, começou a jornada na busca por um bar na noite bejense. Apesar de termos ‘perdido’ alguns companheiros nessa difícil campanha, fomos acompanhados pelo Hugo Teixeira e Vidazinha. Finalmente encontrado um bar com snooker que o Geraldes Lino tanto insistiu, uma alegre conversa bem regada com copos, desenhos (indecentes) e fotografias, a noite prolongou-se com um feroz combate de snooker entre as tropas portuguesas constituídas por Geraldes, Marcos e Hugo Teixeira contra os ianques Sierra e Craig que, verdade seja dita, não pareciam ter muito jeitinho para o jogo. Devido ao jet lag da viagem, Craig e Sierra tinham a pica toda para continuar no jogo mas como se costuma dizer, no dia seguinte trabalha-se e acabamos o jogo às 3 da manhã com um empate.


SÁBADO, ABERTURA DO FESTIVAL
Devido ao vento e temperaturas algo baixas na edição anterior, este ano foi decidido um adiamento do festival para uma altura de bom tempo. E que tempo! Céu limpo e temperaturas a rondarem os 40º que deixavam qualquer um de rastos, ainda para mais americanos e escoceses pouco habituados a este calor.
Ainda assim, este maravilhoso e terrível tempo não demoveu imensa gente de sair à rua e comparecer para a abertura do festival que, como é da praxe, se atrasou. Nada que não se revolvesse com 2 dedos de conversa com conhecidos e autores no mercado do livro. Após o discurso inaugural do Presidente da Câmara, as portas ficaram abertas para se poderem apreciar as diversas exposições. Tantas onde destaco o novo valor nacional que é Carlos Rocha, a vasta exposição de Mattotti, a diversidade de Gary Erskine e a simplicidade do traço de Craig Thompson.

O maior afluxo de visitantes ao festival também se sentiu nos autógrafos onde Thompson foi dos mais requisitados e Erskine o mais demorado porque além de falar pelos cotovelos, dedicava-se a fazer desenhos com enorme atenção ao detalhe. Eram quase 20 horas e ainda estava a atender pedidos.


A programação continuou com as inaugurações das exposições Luminus Box, Venham+5, Voyager e Hugo Teixeira na Biblioteca Municipal, seguindo para o Museu Jorge Vieira – Casa das Artes com a exposição de Marco Mendes e finalmente acabando no Museu Regional de Beja, onde a obra de Alex Gozblau estava exposta e se realizou o habitual jantar volante.

Este jantar ficou marcado por uma justíssima homenagem a Geraldes Lino que foi apanhado desprevenido tendo ficado sem palavras. Uma homenagem pelo trabalho feito na área dos fanzines, pela sua extrema dedicação à nona arte e pela criação da tertúlia de BD de Lisboa que fez 24 anos nesta última quarta-feira, dia 3 Junho. Além do discurso do Presidente da Câmara de Beja, este ofereceu 4 medalhas da cidade e uma placa alusiva à homenagem.

Com muitos copos e boa disposição à mistura, os bedéfilos tomaram conta da Galeria do Desassossego onde este ano se realizou o concerto com os portugueses Million Dollar Lips! e à semelhança do ano passado prendeu a atenção de um dos autores presentes, neste caso o italiano Mattotti.

DOMINGO...
E o sol sem dar tréguas. Uma visita guiada ao centro de Beja onde estavam presentes mais bejenses que visitantes de outras cidades coincidiu com o debate da Associação de Autores de Banda Desenhada. Esta reunião que dizem ter sido pouco frequentada parece mais uma vez confirmar a ideia de que apesar do muito que se fala e se podia fazer, a mesma “meia dúzia de cromos” da BD não se consegue juntar num grupo coeso. Ainda assim, do que depreendi do relato de algumas pessoas presentes, a associação parece ter dado alguns passos no sentido de tentar ter alguém que se dedique a tempo inteiro de forma a aliar esforços que neste momento estão dispersos em diversos projectos e que se poderiam unir em alguns poucos com mais impacto e pujança.

O dia foi preenchido com conversas, workshops e apresentações, algumas das quais adiadas do dia anterior como as do Venham+5 #6 e O Maior de Todos os Tesouros de Carlos Rocha. Todos os anos por esta altura já é habitual a apresentação de um novo número da antologia Venham+5 que este ano muita gente estranhou ser tão “fininha” já o número de autores que participaram diminuiu.
Destaque para a apresentação de um novo autor de BD humorística, Carlos Rocha que apresentou o seu O Maior de Todos os Tesouros como parte integrante da colecção Toupeira.

Gary Erskine deu uma preciosa ajuda com o atelier “Entra no Mundo dos Comics” onde deu bastantes conselhos sobre como apresentar e melhorar um portfólio tendo analisado os de alguns autores presentes. Isto enquanto decorria na bedeteca as apresentações do Menino Triste de João Mascarenhas, Zona Zero e Celacanto.

Devido à sucessão de apresentações adiadas, todas estas apresentações ficaram atrasadas tendo a conversa com Craig Thompson sido adiada para as 18, altura em que infelizmente muitos de nós tiveram que sair.

De um modo geral penso que a edição deste ano fica marcada pelo “+”. + autores, + exposições, + pessoas, enfim, um festival mágico que já nos habituou a superar-se todos os anos.
Novidade nesta edição foi a sobreposição de vários eventos que infelizmente tornaram impossível assistir a todos, facto que comprova que o festival está a crescer bastante dando-se ao luxo de se dispersar em várias vertentes.
Este ano, os miúdos não foram esquecidos estando parte da programação bastante focada neles com os autores Rui Cardoso e Carlos Rocha disponíveis além de filmes e actividades para os entreterem.

De notar que a manga continua com a pujança habitual estando este ano representado com 4 (!) exposições (All-Girlz, All-Girlz Banzai, Luminus Box e Hugo Teixeira) além da apresentação do All-Girlz Galore e lançamento do Monótonos Monólogos de um Vagabundo – Entrevista com Hugo Teixeira.

O festival acabou neste último fim-de-semana e já se ouvem algumas críticas já habituais sobre a aposta no alternativo. A verdade é que, como já ouvi dizer, “o alternativo é o novo mainstream”. O chamado mainstream parece estar a definhar, pelo menos a ver nas editoras que editavam material traduzido, enquanto que os fanzines, edições de autor e outros com tiragens reduzidas são o que parece mais vingar num mercado que já viu (muitos) melhores dias. Percebo a crítica e de certa forma compreendo-a mas ainda me vão convencer que Craig Thomspon é alternativo! (dêem uma vista de olhos no catálogo da editora Fantagraphics).

Confirmados (em principio) para o próximo ano já estão Hypoolyte e Mike Mignola numa edição que Paulo Monteiro já descreveu que “Será o melhor de todos os festivais que fizemos e o pior de todos os que haveremos de fazer!”
Com estes nomes não há que enganar, mais uma vez será a melhor edição de sempre do festival alentejano.

Tenho que agradecer ao Paulo Monteiro pela possibilidade de estar presente para escrever esta rubrica e também por um excelente trabalho de organização que apesar de tudo deve ser provavelmente quem menos aproveita o festival estando ocupadíssimo a resolver problemas que os visitantes nem notaram.

26 July 2009

Remodelação e recomendação

Bons olhos vos vejam neste espaço esquecido. Quando lerem isto já estarei na romaria habitual para terras do sul e, portanto, deixo-vos com algumas remodelações na casa que bem precisa.

A Centralcomics recentemente mudou por completo o portal e, portanto, perderam-se textos e entrevistas que na altura se fizeram.

Para já estão recuperados os seguintes textos:
Entrevista com David Soares
Diário de Bordo I - FIBDA 2007, A Maioridade?
Diário de Bordo III - IV FIBDB
Diário de Bordo IV - Viñetas desde o Atlántico, um festival de lições
Diário de Bordo V - FIBDA 2008

À semelhança do Notas Bedéfilas, também irei programar uma série de posts automáticos para se entreterem com 2 novas rubricas (uma delas só a conhecerão quando a outra acabar).


E puxando ainda mais a brasa à minha sardinha, recomendo a compra do 6º volume da série Venham+5, um laboratório de autores, estilos e pequenas histórias onde o vosso anfitrião tem o conto de 4 páginas, Uma Última Contenda, com o desenhador Véte. Não saiu exactamente como planeado mas espero que entendam e gostem.
Dos outros contos não posso opinar porque vim de Beja sem nenhum exemplar para mim. Ofereci uma cópia à Sierra (deixa cá ver se ela se lembra de mim no futuro) Hahn e outra ao Gary Erskine para agradecer os 2 posters que ele me deu no final do festival (oh yeah, poster dos Tranformers e Dan Dare à borlucha) e não tive oportunidade (nem coragem) de pedir mais cópias ao Paulo Monteiro.

Não partam nada enquanto estou fora!

23 May 2009

V FIBDB


O Notas Bedéfilas já se adiantou. É verdade, o programa do festival já está disponível para consulta (cliquem aqui) e digo-vos... que programa!
Conversas com todos os autores internacionais, autógrafos (não muito tempo por isso, contenham-se!*) e uma excelente ideia de um workshop dado por Erskine para melhoria de um portfólio.

Da minha parte estarei presente para apresentar:

Voyager onde o oitavo episódio desenhado pelo Rui Ramos estará disponível na exposição na Biblioteca Municipal;

Venham+5 #6 será apresentado logo após à abertura do festival e estará à venda no Mercado do Livro de BD. Neste número da conhecida antologia está incluído o conto Uma Última Contenda, escrito por mim e desenhado por Véte;

Splaft! Catálogo do Festival Internacional de BD de Beja onde o texto A Arte Final - Gary Erskine da minha autoria sobre a vida e obra deste autor estará à vossa mercê (espero poder disponibilizá-lo aqui mais tarde).

Estarei presente de Sexta até Domingo por isso espero encontrar-vos por lá;)


Edit: E depois de um grande impasse, a cerimónia de entrega dos Trofeús Centralcomics já está marcada. Realizar-se-á no último fim-de-semana do festival, no dia 13 de Junho e onde os Murmúrios das Profundezas estão nomeados para Melhor Fanzine e Melhor Projecto de BD.


* - olha quem fala! Levou toda as obras que tinha do McKean e ainda avisa os outros para se conterem :P

16 May 2009

The Penny Dreadful #2 + CC Cadavre Exquis


Venho interromper esta pequena grande pausa no blog para vos dar conta de algumas novidades e como compensação pela paciência, sempre têm mais umas BDs para ler.

Utopia é um conto de 4 páginas criado para o FIBDA 2008 com argumento meu e desenho do José Pinto Coelho aka Burnay. Aproveitamos este material já pronto para participar na revista online (webzine? webmagazine?) The Penny Dreadful.

The Penny Dreadful trata-se de uma revista aberta a qualquer um que queria participar com artigos, poemas, BD, contos, etc. Normalmente restringida aos membros da Whitechapel, o fórum de Warren Ellis, qualquer um pode participar como e quando quiser desde que contacte Rick Evans, o mentor do projecto e autor da The Canadian Legion publicada pela editora Arcana Studios. Isso ou consultar o tópico correspondente aqui: The Penny Dreadful Needs Contributors!

Enquanto este conto não encontra uma casa definida (i.e., uma publicação física), fica aqui para lerem no 2º número de The Penny Dreadful. Para acederem, não vos custa mais do que registar e inserir nome, e-mail e idade.

Desculpem algumas coisas mázitas na legendagem mas apesar de ter uma versão melhor, a primeira legendagem foi a que seguiu para a revista.


* * *


E o Cadavre Exquis da Centralcomics está finalmente de volta!


A nossa página já está pronta há cerca de meio ano mas só agora é que o Daniel Maia deu sinais de vida (it's ALIVE!!). A legendagem foi feita por ele porque eu na altura não tinha o programa de legendagem a funcionar correctamente.

Apesar da mudança radical na história, as pranchas mais recentes parecem estar a acompanhar bem as transformações da história.

Brevemente novidades em relação ao Festival de BD de Beja deste ano.

20 March 2009

Interviewing Paul Duffield

The majority of you probably don’t recognize the name but you should. Mangaka with some published works, about an year ago he was shoot into fame when he was chosen to illustrate Freakangels, a webcomic created by the legendary Warren Ellis.

A grande maioria não deve reconhecer o nome mas devia. Mangaka com alguns trabalhos profissionais publicados, há certa de um ano atrás foi catapultado para o estrelado quando foi escolhido para ilustrar Freakangels, um webcomic criado pelo lendário Warren Ellis.

Freakangels is a 6 pages free weekly webcomic that has been published in TPB by Avatar and has a legion of thousands of fans worldwide. The 2nd volume is about to be published and Centralcomics couldn’t miss the opportunity to know the path of this rising star and ask his opinion about the controversial issue: comics vs. webcomics.

Freakangels é um webcomic semanal de 6 páginas gratuito que tem sido publicado em trade pela Avatar e que conta uma legião de milhares de fãs em todo o mundo. O 2º volume está prestes a ser publicado e a Centralcomics não podia perder a oportunidade de conhecer melhor o percurso desta estrela em ascensão e pedir a sua opinião acerca do polémico tema comics vs. webcomics.

Diogo Campos: For those who don't know Freakangels (and should be reading it because it's very good and FREE!), can you describe it in few words?
Paul Duffield:
Freakangels is a sort of steampunk sci-fi comic set in a post-crash, half drowned London. The central characters are the Freakangels clan,
a group of people who were all born at exactly the same moment, 23
years ago, with strange powers. They work to keep their part of London
functioning in a world where technology must be reinvented, and
survival is no longer a given.

Diogo Campos: Para aquele que não conhecem Freakangels (e que deviam ler porque é muito bom e GRÁTIS!), podes-nos descrevê-lo em poucas palavras?
PD:
Freakangels é uma espécie de BD de ficção científica steampunk passada numa
Londres meia afogada. Os personagens principais são o clã Freakangels, um grupo de pessoas que nasceram exactamente ao mesmo tempo, 23 anos atrás, com estranhos poderes. Eles trabalham para manter a sua parte de Londres a funcionar num mundo onde a tecnologia teve que ser reinventada e a sobrevivência não é um dado adquirido.




DC: How you and Warren did came upon with that kind of layout? It seems to be challenge telling a story always in the same format, the 4 panel page.
PD:
The panel layout was decided upon by Warren, since it was much easier to digest on a screen. It's actually easier for me, since I can treat each panel like a frame from a storyboard, and really put a lot of effort into each illustration without worrying about designing a complex layout as well.

DC: Como é que tu e o Warren chegaram àquele tipo de layout? Parece ser um desafio contar uma história sempre no mesmo formato, uma prancha de 4 vinhetas.
PD: O layout foi decidido pelo Warren já que era muito mais fácil de ‘digerir’ no monitor. Na verdade é mais fácil para mim, já que posso tratar cada vinheta como um frame de um storyboard, e dedicar-me realmente a cada ilustração sem me preocupar em planear um layout complexo.



DC: Since you're on the front line of webcomics with the wide known Freakangels, how do you see the future of comics in general?
PD:
I'm not sure at the moment. Webcomics aren't at the stage where they can easily replace print comics, and won't be for a long time in my opinion. At the same time, I think print comics have been stagnating in quality for a long time, and really need a big push to help them realise their potential and gain a wider audience with a wider range of genres. I know for sure that creators and publishers need to be trying as hard as possible to innovate, and not just settling for pleasing existing fans.

DC: Como estás na linha da frente dos webcomics com o bastante conhecido Freakangels, como é que vês o futuro dos comics em geral?
PD:
De momento não tenho a certeza. Webcomics não estão numa fase onde possam facilmente substituir os comics impressos, e não estarão por muito tempo na minha opinião. Ao mesmo tempo, penso que os comics impressos têm vindo a estagnar em termos de qualidade há já algum tempo, e realmente precisam de um empurrão que os ajude a perceberem o seu potencial e ganhar uma mais vasta audiência com uma ampla gama de géneros. Sei com toda a certeza que os criadores e editores precisam de tentar inovar o mais possível e não se contentarem simplesmente em agradar os fãs existentes.



DC: What comics do you usually read?
PD:
I'm mostly a mangá fan actually! I like to find non-mainstream mangá to read at the moment, and I'm really getting into western comics properly for the first time.

DC: Que BDs é que costumas ler?
PD:
Na verdade sou um fã de mangá! De momento, gosto de descobrir mangá fora do mainstream para ler e estou a entrar na banda desenhada ocidental propriamente pela primeira vez.



DC: Do you have any authors and/or titles you prefer?
PD:
My favourite authors at the moment are Jiro Taniguchi, Taiyo Matsumoto, Erica Sakurazawa, Miou Takaya & Osamu Tezuka. I also really like Craig Thompson, and I'm looking forward to Habibi.

DC: Tens alguns autores e/ou títulos que prefiras?
PD:
Os meus autores favoritos de momento são Jiro Taniguchi, Taiyo Matsumoto, Erica Sakurazawa, Miou Takaya & Osamu Tezuka. Também gosto muito de Craig Thompson e estou ansioso pelo Habibi.



DC: How was your first experience with comics? When you were younger, did you usually read comics?
PD:
I've read comics for most of my life, but I didn't really get into them in a big way until I discovered mangá as a young teenager. The mangá I read then were the first mature and complex storylines that I'd encountered in comics, and they really blew me away. From then on what was just a casual interest became an obsession.

DC: Como é que foi a tua primeira experiência com banda desenhada? Quando eras mais novos, costumavas ler BD?
PD:
Eu li BD durante a maior parte da minha vida mas nunca me dediquei até ter descoberto mangá quando era um adolescente. As mangás que lia na altura foram as primeiras histórias maduras e complexas que encontrei na BD e fiquei estupefacto com elas. A partir daí, o que era apenas um interesse casual tornou-se uma obsessão.



DC: So, your main (and only?) source is mangá? That's interesting because you have this style on Freakangels that, I think, it combines mangá with comics and European comics/franco-belgian. How do you define your work, especially on Freakangels?
PD:
Well, it turns out that after I'd really got into mangá, I'd read the small selection of very well-known titles that were on the shelves at the time, and I started looking for more obscure mangá artists. It just happened that most of the obscurer artists I encountered such as Taiyo Matsumoto, Jiro Taniguchi and Koji Morimoto were highly influenced by French and European comics themselves, and that's really where my current style originates from. With Freakangels I also consciously went with something a little more European than my previous work, since that euro-mangá look was exactly what Warren was going for.

DC: Então, a tua principal (e única?) fonte é mangá? Isso é interessante porque tens um estilo no Freakangels que, penso eu, combina mangá com comics e BD europeia/franco-belga. Como é que defines o teu trabalho, especialmente no Freakangels?
PD:
Bem, acontece que depois de ter entrado realmente na mangá, eu tinha lido uma pequena selecção de títulos muito conhecidos que estavam nas estantes na altura, e comecei a procurar por autores de mangá mais obscuros. Aconteceu que a maioria dos artistas que encontrei como Taiyo Matsumoto, Jiro Taniguchi e Koji Morimoto foram eles próprios altamente influenciados pela BD francesa e europeia e é daí que o meu actual estilo é originário. Com Freakangels eu também fui conscientemente para algo um pouco mais europeu que os meus trabalhos anteriores já que um look euro-mangá era exactamente o que o Warren queria.



DC: How and when did you decide you wanted to do comics for a living?
PD:
I think it's been something I've wanted to do for a long, long time. I've been drawing since I could first hold a pencil, and drawing comics since I first knew what they were, so it was just a natural progression. The only other artform that I'm equally attracted by is animation, which I studied at University.

DC: Como e quando é que decidiste que querias viver a fazer BD?
PD:
Penso que tem sido algo que eu queria fazer há muito, muito tempo. Eu desenho desde que consegui segurar um lápis, e desenho BD desde a primeira vez que descobri o que era, por isso foi apenas uma progressão natural. A única outra forma de arte que eu estou igualmente atraído é animação que estudei na Universidade.



DC: Do you have any advice to young creators who want to create their own projects?
PD:
Yes, definitely and it's quite simple really. Start small! A lot of beginners start with a huge idea or an epic storyline that they want to create, but more often than not it never gets finished. The best thing to do is to keep your massive ideas in note form, and practice on self-contained short stories, between maybe 5 and 10 pages. There are three advantages to this:
Firstly, it's great practice, and learning to keep your storytelling concise and clear (which it needs to be to tell a successful short story) is a very useful skill that will help you later in long-form storytelling.
Secondly, it's very uplifting to actually finish something, and it's a great sense of achievement that will help you keep your enthusiasm.
Thirdly, the first place most people get published is in anthologies of short stories, and having completed projects means you have something to give to publishers, and something that will fit easily in your portfolio for people to read and see your skills.

DC: Tens algum conselho para jovens criadores que queiram criar os seus próprios projectos?
PD:
Sim, definitivamente, e é bastante simples na verdade. Comecem pequeno! Muitos dos iniciantes começam com uma ideia enorme ou uma narrativa épica que querem criar mas é mais frequente que nunca a terminem. A melhor coisa a fazer é manterem as vossas ideias maciças em forma de notas e praticarem histórias curtas auto-conclusivas, entre talvez 5 e 10 páginas. Existem três grandes vantagens nisto:
Primeiro, é um bom treino, e aprender a manter as vossas histórias concisas e claras (que são necessárias para contar uma história curta com sucesso) é uma destreza muito útil que vos vai ajudar mais tarde em narrativas mais longas.
Em segundo lugar, é muito gratificante acabar realmente alguma coisa, e é uma grande sensação de realização que vos vai ajudar a manter o entusiasmo.
Terceiro, o primeiro sítio onde a maioria das pessoas é publicada é em antologias de histórias curtas, e tendo completado vários projectos significa que têm algo para dar às editoras, e é algo que cabe facilmente no vosso portfolio para as pessoas lerem e verem o vosso talento.



DC: Basically, what you recommend is the way you used. How was it like to be an unknown artist and then "bang!", working on a groundbreaking project with the legendary Warren Ellis?
PD:
I had done a few projects before Freakangels that were quite well distributed in the UK (including my first full book, which was mangá adaptation of Shakespeare's The Tempest). That being said, it was really something to suddenly be exposed to the international comics scene working on a project with such a well known writer! I'm still pretty shocked that I managed to get the job at all, and the exposure it's given me has been fantastic. Even more than a year into the project, I don't think it's completely sunk in!

DC: Basicamente, o que recomendas é o caminho que usaste. Como é que foi seres um autor desconhecido e de repente “bang!”, a trabalhar num projecto pioneiro com o lendário Warren Ellis?
PD:
Eu fiz uma série de projectos antes de Freakangels que foram bem distribuídos no Reino Unido (incluindo o meu primeiro livro que foi uma adaptação para mangá de A Tempestade de Shakespeare). Tendo dito isto, foi algo realmente extraordinário ser exposto na cena dos comics internacionais trabalhando num projecto com um tão conhecido escritor! Ainda estou em choque por ter conseguido o trabalho e a exposição que me tem dado tem sido fantástica. Mesmo após um ano neste projecto, não acho que ainda tenha realmente assentado!



DC: You do mangá workshops and tutorials, you have a project with Kate Brown, a "how to draw" project and on top of that, you do 6 pages per week for Freakangels. How can you keep up?
PD:
I also do a series of covers for Anna Mercury, another project that Warren's working on. I think the honest answer is sometimes I can't keep up! Everything else I do has to take a backseat to Freakangels, since that takes up so much of my time, but I try and find time to work on my other projects when I can, since I'm creatively very restless. I get itchy fingers if I haven't been drawing or writing for too long!

DC: Tu fazes workshops e tutoriais de mangá, tens um projecto com Kate Brown, um projecto “how to draw” e em cima disto tudo, fazes 6 páginas por semana para Freakangels. Como é que consegues manter o ritmo?
PD:
Também faço uma série de capas para Anna Mercury, outro projecto que o Warren está a trabalhar. Eu acho que a resposta mais honesta é que não consigo! Tudo o que faço tem que ficar em segundo lugar em relação ao Freakangels já que me consome imenso tempo, mas eu tento e encontro tempo para trabalhar nos meus outros projectos quando posso, já que sou incansável criativamente. Fico com comichão nos dedos se não desenho ou escrevo durante muito tempo!



DC: Freakangels is on its 48th episode and we're barely past the first 24 hours. How many episodes (years?) until we start to see the end of the tunnel?
PD:
Wow, I have no idea! I think Warren sees it as at least 10 volumes, but I may be wrong. I know for sure that it doesn't have a scheduled end at this point, and is likely to go on for as long as Warren wants to keep it running.

DC: Freakangels vai no seu 48º episódio e mal passamos das primeiras 24 horas. Quantos mais episódios (anos?) até começarmos a ver o fim do túnel?
PD:
Uau, não faço ideia! Penso que o Warren vê isto como pelo menos 10 volumes mas posso estar enganado. Sei com toda a certeza que não tem um fim agendado neste momento e é muito provável que continue enquanto o Warren quiser mantê-lo a correr.



DC: At this moment, volume 2 is wrapping up. Can you reveal something of the next volume?
PD:
I have a strong feeling we'll be seeing some more diverse locations soon. So far everything's been set in London, but there's a whole broken world out there to explore!

DC: Neste momento, o volume 2 acabou. Podes revelar-nos alguma coisa sobre o próximo volume?
PD:
Eu tenho a forte impressão que em breve vamos ver localizações mais diversas. Até agora tudo tem acontecido em Londres mas existe todo um mundo devastado lá fora para conhecer.



DC: Finally, any last words to our readers?
PD:
Well, hope you enjoy Freakangels, and thanks for taking the time to
read the interview! :) I'm happy to hear any feedback that readers
have, so if you want to get hold of me, just visit freakangels.com or
spoonbard.com

DC: Finalmente, algumas palavras para os visitantes da Centralcomics?
PD:
Bem, espero que gostem de Freakangels e obrigado por terem lido a entrevista! :)
Fico contente se ouvir algum feedback que os leitores tenham, por isso se quiserem falar comigo, simplesmente visitem freakangels.com ou spoonbard.com


If you want to use this interview, be my guest but please let me know. My contact is in my profile.

25 February 2009

Give Me Liberty!





Argumento: Frank Miller
Desenho: Dave Gibbons
Cor: Robin Smith
Editora: Dark Horse Comics


I know not what course others may take but - as for me - give me liberty or give me death.
Patrick Henry


Diz-se que a História tem tendência a repetir-se e prova disso é esta série de culto.
Criada em 1991, Give me liberty foi uma obra visionária, reflexo dos anos anteriores que moldaram o mundo e que nos dias que correm tem uma actualidade impressionante e assustadora.
Em 1995, na altura um futuro não muito distante e de certa forma (im)provável, a América é uma poderosa nação, detestada pelo mundo inteiro. Expulsa da ONU por ter invadido territórios como a América do Sul, Israel, Cuba, Paquistão ou Indochina com a justificação de serem no man’s land, territórios abandonados e/ou conflituosos, a criminalidade aumentou drasticamente e movimentos separatistas e extremistas desenvolvem-se às centenas lutando contra a administração central pelas mais disparatadas razões.

Uma parte da população vive em mini cidades, complexos vistos pela população exterior como prisões/asilos onde os criminosos sem emenda são enviados para cumprir as suas penas ou serem tratados. A verdade é que estes complexos são verdadeiras cidades em miniatura com todas as infra-estruturas necessárias à vida normal (escolas, hospitais, etc.) onde famílias inteiras nascem, vivem e morrem em espaços minúsculos, sem as mínimas condições e sem ver alguma vez a luz do dia. É neste tipo de instituição que a protagonista desta série, Martha Washington, nasce em 1995, um ano antes de Erwin Rexall ser eleito presidente. Desde muito nova habituada a este gueto, Martha é um génio com computadores, uma lutadora nata que sabe que a única forma de escapar a esta prisão é ser abandonada à sua sorte na rua. Esta é a solução encontrada para muitos instáveis mentais não sobrecarregarem em demasia o governo, resultado dos inúmeros cortes orçamentais que o Presidente Rexall decretou.

Erwin Rexall, um sonho de presidente que faria qualquer bom conservador redneck orgulhoso (e um produto eleitoral com muitas afinidades ao filósofo grego que nos governa), eleito pela primeira em 1996, trata de aumentar ainda mais a pressão interior e exterior dos EUA.
Levando ao extremo os ideais conservadores, Rexall faz inúmeras alterações à constituição podendo-se recandidatar sem limite, impondo um regime de ferro à população, alia-se à Polícia da Saúde, uma versão distorcida da Cruz Vermelha chefiada pelo louco Cirurgião Chefe e autorizando a morte indiscriminada de milhares de sem-abrigo que há muito infestam as cidades, resultado das expulsões das instituições.


Em pleno colapso da economia mundial, em guerra com o Irão graças a um estúpido erro que fez arder inúmeras jazidas de petróleo e com a população apache a criar problemas numa refinaria, em 2009 o impensável acontece. Uma bomba incendiária mata todos os membros do governo de Rexall, deixando este em coma profundo. Como resultado deste atentado reivindicado por mais de 60 organizações, o então ministro da agricultura, Howard Nissen, assume o lugar de presidente. Democrata e ambientalista convicto, Nissen dá uma grande volta aos desígnios do país, reconhecendo a independência da Nação Apache, assinando um armistício com a Rússia e mobilizando todas as tropas para a Amazónia, local devastado pelas empresas de hambúrgueres que se tornaram imensamente poderosas e que defendem a todo o custo as pastagens da principal fonte de alimento americana.


Martha Washington (nome da mulher do primeiro presidente dos EUA), a personagem principal desta série de culto, é uma simples rapariga nascida em 1995 no seio de uma pobre família negra a viver o complexo Cabrini Green.
Conseguindo escapar do complexo com apenas 14 anos, Martha é a nossa companhia nos eventos históricos que atravessam os EUA. Martha esteve quase sempre na linha da frente destes eventos por se ter alistado à PAX, uma suposta força de paz (uma espécie de SHIELD) americana deturpada e ao serviço do próximo golpe sujo do governo e que lavou a cara com a intervenção de Nissen. Quem se alistasse na PAX veria o seu registo criminal limpo. Martha aproveitando esta oportunidade, vai para a frente de combate na Amazónia onde é ferida pelo megalómano Coronel Moretti. Esta personagem manipuladora, herdeiro de família rica, chantageia Martha e usa-a nos seus esquemas para subir no poder na PAX e no governo.


Claro que nem tudo são rosas com a administração Nissen. A guerra na Amazónia mostrou-se desastrosa com pesadas baixas de ambos os lados. Alvo de vários atentados, o seu governo começa a ser minado por dentro por nada mais, nada menos que Moretti que pretende instaurar estado marcial e que irá levar o país a uma nova guerra civil.

Lutando contra (ou ao lado) de todas as personagens de relevo da série, Martha demonstra a sua tenacidade e bravura, escolhendo sempre o menor de vários males de forma a poder salvar o país de inúmeras ameaças.

Esta obra apesar das suas virtudes, também tem os seus defeitos. Resumidamente pode-se dizer que 4 números são pouco espaço para tanta informação. O leitor é transportado a uma velocidade fenomenal pelos acontecimentos que na maioria das vezes falham em construir uma base credível para a transição entre os eventos em que Martha Washington se vê envolvida e as explicações gerais dadas ao leitor sobre vários acontecimentos que afectam a heroína.

O desenho de Dave Gibbons é simplesmente impecável. Não há muito mais a dizer além de que é superior à rigidez de se vê em Watchmen e que muito deve também às cores de Robin Smith.

Frank Miller excede-se. Descrito por alguns como “um festival de cenas de explosões numa guerra pela supremacia de uma empresa de hambúrgueres (com alguma politica pelo meio)”, não me canso de repetir que Give me liberty é uma obra visionária. Sim, temos as situações impossíveis de uma personagem que mais parece ser invulnerável. Sim, temos as habituais explosões, combates, acção e inúmeras situações limite. Sim, temos uma heroína que salva o dia inúmeras vezes. Temos também as típicas ridículas organizações extremistas como, por exemplo, a Nação Ariana Gay que já vimos variantes em obras como Ronin ou Dark Knight Returns.
E no entanto esta obra é tudo isso e muito mais superando-se a si mesma.
Num mercado infestado de homens musculados e beldades esculturais semi-despidas todos os dias ao soco e pontapé a tentar provar algo (?), é preciso tirar o chapéu à Dark Horse e à dupla de criadores da obra por terem dado um verdadeiro salto de fé. Ter como heroína uma maria rapaz negra armada em Rambo foi um risco tremendo para todos os envolvidos… E ainda assim Miller superou.


Como já referi atrás, toda esta mini série encontra-se assustadoramente actual. Quase todos os acontecimentos nele encontram um paralelismo com a actual situação no mundo. É difícil pensar que esta obra foi produzida há mais de 15 anos numa altura em que o mundo se parece tanto como hoje. Poder-se-ia dizer que Give me liberty é o reflexo dos acontecimentos passados antes da sua produção e no entanto, o leitor facilmente se esquece destes pormenores e trata de associar eventos actuais aos da obra.
A Guerra na Amazónia é uma clara alusão à desastrosa Guerra do Golfo (ou ainda a Guerra do Vietnam) mas hoje, mais do que nunca, pode ser feita um paralelismo com a actual Guerra do Iraque e futuramente a Guerra do Afeganistão já que os EUA estão a retirar do Iraque para se concentrarem duramente neste país que lhes está a ficar fora de controlo muito rapidamente;
O colapso da economia e de Wall Street que levaram aos caos social é uma cópia exagerada (?) do que actualmente se passa no mundo;
A excessiva poluição produz um pesadelo ambiental que nos preocupa actualmente e que podemos ver as consequências nesta obra;
Também é incrível ver a semelhança que pode ser feita entre Rexall e Bush (ou até em menor grau o dito filósofo) e respectivos sucessores, Nissel e Obama que muda(ra)m a imagem da América. Curiosamente, Nissen toma posse em 2009, o mesmo ano em que Obama também foi oficialmente declarado presidente dos EUA.

Com estas semelhanças e muitas outras que vos desafio a descobrir, não há margem para dúvida em afirmar que Frank Miller foi um visionário e criou uma obra obrigatória que merecia um muito maior destaque e uma profunda análise. Esta obra merece, mais do que nunca, uma leitura muito séria. Que nos sirva para pensar, nem que seja por um bocadinho, no estado actual do mundo e no que uma simples pessoa (cada um de nós) pode dar de si para criar para contribuir para um mundo melhor tal como Martha fez.

A lista completa de estórias é a seguinte:
-Give Me Liberty (mini série de 4 números)
-Martha Washington Goes to War (mini série de 5 números)
-Happy Birthday, Martha Washington (one-shot)
-Martha Washington Stranded in Space (one-shot)
-Martha Washington Saves the World (mini série de 3 números)
-Martha Washington Dies (one-shot)

Encontra-se em preparação um Omnibus de mais de 600 páginas com tudo o que esteja referente à personagem de Martha Washington que estava previsto sair em 2008. Actualmente no site da Amazon fala em Julho deste ano. Resta-nos esperar.

NOTA: Quem tiver a 3ª e 5ª séries para venda, que me contacte por favor já que são as únicas estórias que me faltam para acabar a colecção.

19 February 2009

Interviewing Pat Mills

Pat Mills, personality that goes unnoticed to the comics readers, is known as the "godfather of British comics." Founder of the 2000 AD magazine that has made known to the world many respected artists, Pat is the creator of Marshal Law (with Kevin O'Neill), Requiem: Chevalier Vampire (with Olivier Ledroit), writer of Judge Dredd, among many other works.
Irreverent and somewhat controversial, Centralcomics took advantage of his recent presence of the author in FIBDA, in order to do an interview and discuss the current tendency of the comics market.

Pat Mills, figura que passa algo despercebida aos leitores de comics, é conhecido como o “padrinho dos comics britânicos”. Fundador da revista 2000 AD que deu a conhecer ao mundo inúmeros artistas conceituados, Pat é criador da série Marshal Law (com Kevin O’Neill), Requiem: Chevalier Vampire (com Olivier Ledroit), escritor do Judge Dredd, entre muitas outras obras.
Irreverente e algo polémico, a Centralcomics aproveitou a recente presença do autor no FIBDA para lhe cravar uma entrevista e discutir a actual tendência do mercado bedéfilo.



Diogo Campos: You're known has the "godfather of British comics". You created 2000AD which opened the doors to the British invasion of American comics where many authors like Garth Ennis, Sean Phillips, Alan Moore, Warren Ellis or Neil Gaiman first showed up to a vast audience. How do you see yourself as a historical character on the comics history?
Pat Mills:
2000AD was a European influenced comic and I prefer European comics, hence why I write Requiem for France. So the term Godfather is kind of misleading as it suggests a connection with this move to America which I don't relate to. Although I have worked for America, I don't like super heroes because they are mainly phoney, a travesty of the meaning of the word hero, and I equally dislike most of Vertigo which is "corporate cool", rather than genuinely cool. Hence why I write Marshal Law - super hero hunter. So I see myself as an Outsider, moving in the opposite direction to everyone else, a direction that is better for my soul, if not my bank balance.

Diogo Campos: És conhecido como o padrinho dos comics britânicos. Criaste a 2000AD que abriu portas para a invasão britânica dos comics americanos onde muitos autores como Garth Ennis, Sean Phillips, Alan Moore, Warren Ellis ou Neil Gaiman foram apresentados pela primeira vez a uma vasta audiência. Como é que te vês sendo uma figura histórica dos comics?
Pat Mills:
A 2000AD foi um comic com influências europeias e eu prefiro comics europeus, daí ter escrito o Requiem para o mercado francês. Por isso, o termo “padrinho” é um pouco enganador já que sugere uma ligação com esse movimento para a América com o qual eu não me relaciono.
Apesar de ter trabalho para os EUA, não gosto de super heróis porque são travestis do significado da palavra herói. E não gosto igualmente da Vertigo por ser “corporative cool” em vez de “genuinamente fixe”. Daí eu ter escrito o Marshal Law – caçador de super heróis. Por isso sinto-me de certa forma afastado desses movimentos, seguindo numa direcção oposta à de toda a gente, uma direcção que é a melhor para a minha alma, se não para a minha conta bancária.



DC: Now that I think of it, even Vertigo doesn't dare to do "certain things" that are common in French comics. It's the self censorship that never abandoned American comics?
PM:
Well observed.

DC: Agora que penso nisso, mesmo a Vertigo não se atreve a fazer “certas coisas” que são comuns na banda desenhada francesa. Será a auto censura nunca abandonou os comics americanos?
PM:
Bem observado.



DC: What do you think is the reason?
PM:
It's part of a big corporation. I have occasionally raised genuinely cool but very serious issues for stories in their direction. Negative or No response.

DC: Qual te parece ser a razão?
PM:
A Vertigo faz parte de uma grande corporação. Ocasionalmente já lhes enviei ideias genuinamente fixes mas sérias para histórias na direcção deles. Acabei por obter respostas negativas ou mesmo nenhuma resposta.



DC: Garth Ennis's The Boys was turned down by Vertigo before Dynamite picked it up for instance. Maybe I’m not paying enough attention but it seems all the publishers are always a bit “careful” with what they launch. Do you think even the small ones have the same corporative issue?
PM:
Possibly. The days when American comics did really "brave" material are long gone. Violent isn't the same as brave.
E.G. Last Gasp American comics in the 70s were the first to expose the Karen Silkwood affair. That is true bravery!

DC: The Boys, do Garth Ennis, foi recusado pela Vertigo antes da Dynamite ter pegado nele por exemplo. Talvez não esteja a prestar atenção mas parece que todas as editoras têm um certo “cuidado” com aquilo que publicam. Achas que até as pequenas editoras têm os mesmos “receios” que as grandes?
PM:
Possivelmente. Os dias em que os comics americanos produziam material “arrojado” há muito que se foram. Violência não é o mesmo que coragem e bravura.
Por exemplo, a Last Gasp American comics, nos anos 70, foram os primeiros a expor o caso Karen Silkwood [*]. Isso sim é verdadeira bravura!



DC: Moving on to a general idea, how do you see the comics market?
PM:
Very conservative in Britain and America. Innovative in Europe - although sometimes I get the feeling European artists and writers are overly influenced by UK and US and France when their own culture has as much or more to offer

DC: De um modo geral, como é que vês o mercado bedéfilo?
PM:
Muito conservador no Reino Unido e na América. Inovador na Europa – embora às vezes eu tenha a sensação que os artistas e escritores europeus são demasiado influenciados pelo Reino Unido, EUA e França quando a sua própria cultura tem tanto ou mais para oferecer.



DC: What do you think will be the future of comics?
PM:
I think they are booming. But they have to less to actually say now because we live in a very conservative decade

DC: Qual achas que irá ser o futuro da banda desenhada?
PM: Acho que se está a expandir. Mas agora têm menos para dizer porque vivemos numa década muito conservadora.



DC: Do the American publishers still track down creators from 2000AD?
PM:
I'm sure they do. But this last question implies there is some great achievement if they do. Why not French publishers? Why do we have to be tracked down anywhere? What about if we are already where we want to be? The world is far too American orientated and we need to resist neo-colonialism. Leave that to Tony Blair who - to my country's shame - was so happy to kiss Bush's ass. In comics, we don't have to do the same.

I will give you an example:
A very important American publisher "tracked down" an artist on one of my British stories and wanted him to dump my story and work for them. The artist said no to them. They said - but we can give you more money. He said no again. They were angry because the dollar didn't buy him. He preferred to work for Britain. He preferred to work on my story because he cares about the story and about art. The dollar does not always win.

These are the things we as Europeans should be celebrating rather than the constant admiration for American corporate comics.

We should be equal partners, treated with equal respect. The best way to achieve this is to take pride in our European culture and our own comics. I loved the Portuguese comics I saw when I was over in Lisbon. They were great. But I fell asleep at an editorial meeting of Marvel Comics in New York once. Seriously! Super Heroes! What is all the fuss about? Marshal Law needs to pay them all a visit.

DC: As editoras americanas ainda vão à procura de criadores da 2000AD?
PM:
Tenho a certeza que sim. Mas esta questão implica que exista algum grande feito se são escolhidos. Porque não editoras francesas? Porque é que temos de ser repescados de algum sítio? E se nós estivermos exactamente onde gostamos de estar? O mundo é demasiado orientado para os americanos e nós temos que resistir a esse neo-colonialismo. Deixem isso para o Tony Blair que – para vergonha do meu país – esteve contente em lamber as botas do Bush. Na banda desenhada não precisamos de fazer o mesmo.

Vou dar-te um exemplo.
Uma importante editora americana “descobriu” um artista de uma das minhas estórias britânicas e queria que ele largasse a minha história e fosse trabalhar para eles. Ele disse que não. Eles disseram: “mas nós podemos dar-te mais dinheiro”. Ele disse não novamente. Eles ficaram zangados porque o dólar não o comprou. Ele preferiu trabalhar para o Reino Unido. Ele preferiu trabalhar na minha estória porque se preocupa com a estória e arte. O dólar nem sempre ganha.

Estas são as coisas que nós como europeus devíamos celebrar em vez da constante admiração pelos “corporate comics” americanos.

Deveríamos ser parceiros iguais, tratados com o igual respeito. A melhor maneira de atingir isto é ter orgulho na nossa cultura europeia e nas nossas BDs. Eu adorei as BDs portuguesas que vi quando estive em Lisboa. Eram altamente. Mas já adormeci uma vez numa reunião editorial da Marvel Comics em Nova Iorque. A sério! Super heróis! O que há de tão especial neles? O Marshal Law precisa de fazer-lhes uma visita!




DC: I’m glad you enjoyed our comics. Was there anyone or anything that caught your attention?
PM:
Yes, the comic strip about TB as the enemy in a football game. I thought that was amazing.

DC: Estou contente que tenhas gostado das nossas BDs. Houve alguém ou algo que te tenha chamado a atenção?
PM:
Sim, a tira acerca da tuberculose como o inimigo num jogo de futebol. Achei que era espantoso.



DC: Well it’s a common thing the American publishers track down authors from other smaller publishers. The small ones have the hard work launching someone’s career and when they do, the major ones try to pick them up.
There’s this general idea that the pinnacle of a comics artist is working for the 3 or 4 major publishers.
PM:
In Britain - yes. But in Europe working for the top French publishers is the objective. So artists in Poland and Serbia would want to work for France - Soleil, Dargaud etc. - rather than the States.

We have to get away from this idea that the world revolves around America.

For example in Berlin... a popular comic-based Hollywood movie came out , but my German film-student friends had never heard of it the week it was Number Three in the German charts. They were far more interested in European cinema. I am sure they are not alone.

DC: Também é normal as editoras americanas procurarem autores de outras editoras mais pequenas. Estas têm todo o trabalho de lançar a carreira de alguém e, quando o fazem, vêm as grandes apanhá-los.
Existe uma ideia geral que o pináculo da carreira de um artista de BD é trabalhar para as 3 ou 4 maiores editoras.
PM:
No Reino Unido – sim. Mas na Europa, trabalhar para as grandes editoras francesas é o objectivo. Por isso é que artistas da Polónia e Sérvia prefeririam ir trabalhar para França – Soleil, Dargaud, etc. – do que para os Estados Unidos.

Temos que nos afastar da ideia que o mundo gira à volta da América.

Por exemplo, em Berlim… um filme de Hollywood baseado num comic popular saiu, mas os meus amigos alemães estudantes de cinema nunca tinham ouvido falar dele na semana em que o filme ficou em 3º lugar nos tops alemães. Eles estavam muito mais interessados no cinema europeu. Estou certo de que eles não estão sozinhos.



DC: They give you more audience and apparently pay more but there are other alternatives. 2000AD seems to be one and like 2000AD, there are other magazines and publishers looking for new people. For those who are already out there trying to be noticed, what can you recommend so they can move on to higher grounds?
PM:
If you are an artist - work for France. If you are a writer - find an artist and work for France. But it's just as tough as the States... However, anyone who has talent will eventually find a home.

DC: Eles dão-te mais público e aparentemente pagam mais mas existem outras alternativas. 2000AD parece ser uma delas e tal como a 2000AD, existem outras revistas e editoras à procura de nova gente. Para aqueles que estão actualmente a tentar ser notados, o que podes recomendar para que possam mover-se para níveis mais altos?
PM:
Se és um artista – trabalha para a França. Se és um escritor – encontra um artista e trabalha para a França. Mas é tão difícil como nos Estados Unidos… Apesar disso, qualquer um com talento consegue eventualmente encontrar uma casa.



DC: Of all the things, why comics?
PM:
Me? I guess cos I can say the things I want to say

DC: De todas as coisas, porquê comics?
PM:
Eu? Acho que é porque posso dizer as coisas que quero dizer.



DC: But how and when you did you decide you wanted to do comics for a living? What was your first experience with comics?
PM:
When I worked for a publishers who produced comics. Previously, as a kid, I had no real experience of comics.

DC: Mas como e quando é que decidiste que querias viver a fazer BD? Qual foi a tua primeira experiência com BDs?
PM:
Quando trabalhei para uma editora que produzia comics. Antes, como criança, não tive nenhuma experiência com BDs.



DC: What comics do you usually read?
PM:
French or Italian comics

DC: Que BDs costumas ler?
PM:
Banda desenhada francesa ou italiana.



DC: Do you have any authors and/or titles you prefer?
PM:
Bilal. Druillett. Conquering Armies.

DC: Tens algum autor e/ou série que prefiras?
PM:
Bilal. Druillett. Conquering Armies.




DC: Besides John Wagner, you were one of the creators who most contributed to the Judge Dredd’s character and world early conceptions. You’ve watched Dredd’s world start from scratch so, here's the inevitable question, what do you think of the movie and Stallone as Dredd?
PM:
Not as bad as people said. There are worse movies out there!

DC: Além de John Wagner, tu foste um dos criadores que mais contribuiu para a personagem Judge Dredd e para a caracterização do seu universo. Tu viste o mundo do Dredd começar do nada e por isso, fica aqui a inevitável pergunta, o que achas do filme e do Stallone como Dredd?
PM:
Não é tão mau como as pessoas pensam. Há filmes muito piores por aí!



DC: Many people (like me) are eager to know: when we'll see a Requiem compilation in English?
PM:
Oh, yeah and me! It's a slow process. Panini UK are interested, possibly tieing in with Paninis elsewhere. But Heavy Metal are currently doing US edition.
Finally!!

DC: Muitas pessoas (como eu) estão ansiosas por saber: quando é que vamos ter uma compilação do Requiem em inglês?
PM:
Oh, sim e eu! É um processo lento. Há interesse por parte da Panini UK e possivelmente das restantes Paninis. Mas a Heavy Metal está neste momento a fazer a edição americana.
Finalmente!



DC: And what about Claudia Chevalier Vampire? Will it be collected along with Requiem?
PM:
Separate collection in France. Also in States

DC: E em relação à Clauda Chevalier Vampire? Também será compilada junto com o Requiem?
PM:
Colecções separadas em França. O mesmo nos Estados Unidos.



DC: Can you reveal something of your future projects? Anything new we should be looking forward to?
PM:
More of the same. In France, Sha will be reprinted shortly. In Britain... I write various 2000AD characters: Savage, Judge Dredd, ABC Warriors, Greysuit, Defoe, Slaine.
I also write audio plays for Doctor Who and am working on my third one soon
And next year Top Shelf will publish a Marshal Law Omnibus.

DC: Podes revelar-nos alguma coisa dos teus projectos futuros? Alguma coisa que deveríamos estar atentos?
P:
Mais do mesmo. Em França, o Sha vai ser reeditado brevemente. No Reino Unido… escrevo várias personagens para a 2000AD: Savage, Judge Dredd, ABC Warriors, Greysuit, Defoe, Slaine.
Também escrevo peças do Doctor Who para a rádio e estou neste momento a trabalhar na minha terceira. E este ano a Top Shelf irá publicar Marshal Law Omnibus.



DC: Do you have any advice to young creators who want to create their own projects?
PM:
Write and draw from the heart about something you really know about. Use Writer's Journey as your guide.
Good luck!

DC: Tens algum conselho para os jovens artistas que querem criar os seus próprios projectos?
PM:
Escrevam e desenham do coração acerca de algo que realmente saibam e conheçam. Usem o The Writer’s Journey como guia.
Boa sorte!


[*] Activista sindical americana suspeita de ter tido uma morte arranjada pela companhia de energia nuclear onde trabalhava quando investigava denúncias de irregularidades.



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