27 April 2008

Black Dossier

Argumento: Alan Moore
Desenho: Kevin O'Neill
Editora: America's Best Comics

ATENÇÃO! PODE CONTER EVENTUAIS SPOILERS!

Este novo volume da brilhante Liga de Cavalheiros Extraordinários passa-se nos anos 50, numa Inglaterra a recuperar dos anos do regime do Big Brother onde os avanços tecnológicos misturaram o ambiente vitoriano com o steam-punk.

Os rejuvenescidos Alan e Mina assaltam o antigo quartel-general da Liga para roubar... o Dossier Negro (Black Dossier). Precisamente o Dossier que o leitor tem na mão! Este dossier relata todas as provas que o MI5 tem sobre a existência das várias Ligas que têm existido ao longo dos séculos. Essas provas vão desde peças de teatro, revistas pulp, folhetos, relatos, fascículos de várias colecções, enfim, uma grande salada de provas criadas pelo Alan Moore que tornam mais credível o universo destas personagens.

Estas provas reunidas no dossier seguem uma cronologia exacta que vão desde tempos imemoráveis com os Great Old Ones, criacção do Lovecraft, passando por todas as fases da História da Grã-Bretanha até quase ao “presente” onde se encontra a dupla e o leitor. Tudo relacionado com as diversas Ligas existentes ao longo dos séculos entre as quais uma que a Mina e o Alan formaram depois das invasões marcianas e que nunca tínhamos visto antes e que incluiu, entre outros, Orlando, personagem já apresentada nos outros volumes e que neste tem direito a tiras que contam a sua vida desde há 3.000 anos atrás.

O mais brilhante deste livro é o leitor acompanhar a par e passo tudo o que a dupla descobre acerca das antigas encarnações da Liga. Ao longo da narrativa muito bem conseguida, vamos alternando entre períodos de tensão com a perseguição dos agentes especiais do MI5 à dupla e outros mais calmos onde eles aproveitam para ler mais um pouco do dossier. Conforme vão lendo o dossier, o leitor também acompanha a leitura do mesmo. A leitura da banda desenhada é interrompida para se poder mergulhar exactamente no que as personagens estão a ler. O livro interage com o leitor de tal maneira que só nos faltava acompanhar as investigações de Alan e Mina lado a lado com eles.

Alan e Mina roubam o dossier entretanto já esquecido e ignorado pelo MI5, mas, assim que assaltam a sua antiga sede, são perseguidos por um trio de personagens bem sinistras (que dizer então da surpresa que é o Bond) que não fazem ideia de quem eles são. A ideia da Mina era desaparecerem com o dossier para o Blazing New World. Desta forma, além de apagarem todas as provas da existência da(s) Liga(s), desapareciam também todos os factos relacionados com este sítio especial.

Esta última parte no livro é um pouco decepcionante para uma perseguição e aventura que prometiam um bom final. Foi mais uma desculpa de apresentar uma ideia recorrente na obra do Moore (Promethea e A Voz do Fogo entre outras) mas que não deixa de ter a sua piada e nos introduz novas ideias que possivelmente serão utilizadas no futuro da série.

Apesar disso o Moore consegue algo inovador neste final usando os efeitos 3D. Se o leitor alternar as cores, vê desenhos sobrepostos a vermelho ou a verde. Sem os óculos, tudo não passa de uma confusão de linhas a cores mas com os óculos, vemos imagens diferentes conforme a cor escolhida. Atentem nos portais para outras dimensões e especialmente na concepção do Nyarlathothep que está tão genial que não há palavras para descrever.

Penso que os fãs que estão à espera de uma aventura como as 2 anteriores, podem desiludir-se bastante com este novo capítulo. Este álbum é mais um compêndio de informações sobre a Liga e, mais lá para o final, do Ideaspace (uma dimensão que o Moore acredita piamente existir onde se encontram todas as ideias, conceitos abstractos, personagens e estórias que alguma vez existiram, existem e existirão) do que uma aventura como tem sido os anteriores álbuns. Prova disso é a nova série da Liga que será, nas palavras do próprio Moore, o terceiro volume da Liga de Cavalheiros Extraordinários.

A leitura dos vários textos, especialmente a peça do Shakespeare e a revista pulp, são difíceis e entediosas e, tal como o Watchmen, devido à grande quantidade de "extras", a leitura demora muito tempo. Leiam com calma, tempo e muita paciência pois todos os pormenores são importantes (ou poderão vir a ser).

Só para terem uma ideia do génio do Alan Moore, para esta série, ele teve a ideia de juntar num único universo brilhantemente coeso todos os grandes e pequenos clássicos da literatura.
Além dos habituais Sherlock Holmes (Professor Moriarty), Dr. Jekyll e Mr. Hide, Dracula (Mina Murray), As Minas do Rei Salomão (Allan Quatermain), 20 mil Léguas Submarinas (Capitão Nemo) e outros que não me lembro, nesta obra temos presente as seguintes referências que consegui identificar e me recordo:
-Lovecraft e o seu Cthulhu Mythos;
-George Orwell e o seu 1984;
-Robert E. Howard e o continente criado para o universo do Conan, Hyperborea;
-Fanny Hill (com uma nova aventura supostamente criada por ela);
-Shakespeare (com uma peça também supostamente criada por ele);
-Moby Dick;
-Ian Fleming e o seu Bond e os vários M‘s que são sempre uma surpresa nesta série;
-Gulliver e uma “suposta” formação de uma Liga criada por ele;
-Beowulf;
-imensas obras "menores" onde surgem diversas personagens que compõem versões frustradas de formar uma Liga após o abandono da dupla Lina e Alan e outros equivalentes da Liga noutros países como os franceses "Les Hommes Mystérieux" e os alemães "Der Zweilicht-helden".

Já está prometido um novo capítulo nesta excelente saga. Desta vez será editada pela Top Shelf e, aparentemente, são três comics de nome The League of Extraordinary Gentlemen - Century.

Para saberem virtualmente tudo sobre a Liga, visitem este site: http://www.comp.dit.ie/dgordon/League/loeg0008.html

26 April 2008

Asa Negra - Nova loja de BD

Em Abril, uma nova loja de BD surge no país. Hugo Teixeira (autor de Bang Bang e Monótonos Monólogos de um Vagabundo) e Ana Vidazinha criaram a loja que situar-se-á em Almada.

Além do habitual catálogo Previews, vamos poder encontrar artigos de modelismo de várias marcas, merchandising, jogos de tabuleiro, estratégia e de cartas coleccionáveis, literatura importada e muitas publicações periódicas estrangeiras de arte e entretenimento.

Asa Negra Comics
CC Faraó, loja 4, Almada
www.asanegracomics.com

14 April 2008

Loop station (II): Death Proof


Decidi mudar a ideia por detrás da Loop station. Em vez de mostrar o disco que está constantemente a passar no estaminé, vou mostrar o que anda a rodar por cá apresentando também o filme. Isto porque a grande maioria dos discos que ouço são bandas sonoras.
Perdida a oportunidade de comentar o filme Sweeney Todd e a banda sonora de Juno (se encontrar barato e me entusiasmar, talvez escreva qualquer coisa), passo agora para Death
Proof
.

Apanhei o disco em promoção mais uma vez num daqueles super-mercados culturais que todos conhecemos para o bem e para o mal (especialmente das carteiras).

Passado tanto tempo depois de ter visto o filme no cinema, ao ouvir o cd, cheguei a uma vergonhosa conclusão: não me lembrava de nenhuma cena à excepção da lap dance e mesmo essa foi muito esforço de memória. Não reconhecendo as músicas, tive que rever o filme.

Bem, ainda mais envergonhado fiquei. Como foi possível deixar passar tantas cenas memoráveis?!?
Nesta segunda visualização, dei mais atenção à banda sonora e, como sempre, é soberba e incrível.
Os diálogos são tantos e tão bons que a banda sonora peca por não ter mais mas os principais estão lá. Dou destaque obviamente ao diálogo onde nos é apresentado Stuntman Mike, a definitiva ressurreição de Kurt Russel para os grandes papéis.

Em relação às músicas, que há mais para dizer? Mais uma prova que Tarantino é tão bom realizador e escritor como conhecedor de música. Grande parte da alma dos filmes dele vive das músicas, onde cenas memoráveis só são isso mesmo, memoráveis, por culpa das músicas. Quem viu o filme mas ainda não teve oportunidade de rever ou de ouvir a banda sonora, antes de mais que procure a The Coasters - Down in Mexico... Anos 60 e 70 em alta!


Em relação ao filme, os fãs de Tarantino têm uma relação de amor-ódio com esta metragem.
Há aqueles que adoram o filme. Os mesmos diálogos espectaculares, uma perseguição de automóveis como já não se via há muitos anos (note-se que este filme não teve uma única pitada de CGI, é tudo carroçaria e chapa a desfazer-se a 200km/h), um "vilão" que mete medo ainda antes de sabermos quem ele é, raparigas giras, acção... Enfim, o cocktail habitual que presenteia os mais entusiastas com piscadelas de olho ao Kill Bill e à segunda metade deste Grindhouse: Planet Terror.

E existem aqueles que não gostam e até teriam alguma razão mas simplesmente não entenderam a mística deste filme. Sim, é mau, tem pouca estória, final abrupto mas é essa a piada do filme. É daqueles tão mauzinhos que é genialmente bom. Um verdadeiro Grindhouse feito para divertir e entreter.
É essa a mística por detrás dos filmes Grindhouse, um filme para entreter, barato e mau.

Um clássico instantâneo que tanto poderia ser apreciado na época dourada dos Grindhouse como nos dias de hoje!


PS - Em Novembro vai sair Kill Bill: The Whole Bloody Affair. Ainda não se sabe pormenores sobre os extras mas já estão prometidos 4 (!) discos e fala-se que o Tarantino juntou os dois filmes num só, coloriu as cenas a preto e branco, acrescentou algumas cenas apagadas (censuradas para poder obter a classificação "Restricted" que penso que seja um "16+" já que esta nova versão será "Rated 17+", o nosso "18+") e mexeu na ordem das cenas para aquilo que ele estava a pensar fazer originalmente.

10 April 2008

Murmúrios das Profundezas (I)

Já está disponível um blog sobre este projecto que se espera que seja apresentado no Festival Internacional de Banda Desenhada de Beja este ano.

O desenho acima trata-se de uma imagem promocional feito pelo Diogo Carvalho e temos uma das personagens principais de um dos meus contos para este projecto.

Espero que seja do agrado dos vossos pesadelos lovecraftianos...